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Informativo 133 – Lixo eletrônico, vergonha nacional e asfalto na floresta

1 – Divulgação científica: lixo eletrônico em excesso

2 – Vergonha Nacional

3 – Asfalto na floresta

 

1 – Divulgação científica: lixo eletrônico em excesso

Há mais de dez anos tem crescido enormemente o uso de dispositivos eletrônicos portáteis, como computadores, telefones celulares e tocadores de música (primeiramente CD e, depois, arquivos digitais). Um dos resultados, que a princípio não parecia preocupante, é o acúmulo de lixo.
Eletrônicos hoje representam o tipo de resíduo sólido que mais cresce na maioria dos países, mesmo nos em desenvolvimento. Um dos grandes problemas de tal lixo está nas baterias, que contêm substâncias tóxicas e com grande potencial de agredir o ambiente.
Em artigo publicado na edição desta sexta-feira (30/10) da revista Science, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, comentam o problema e a ausência de políticas adequadas de reciclagem.
O pequeno tamanho, a curta vida útil e os altos custos de reciclagem de tais produtos implicam que eles sejam comumente descartados sem muita preocupação com os impactos adversos disso para o ambiente e para a saúde pública, apontam os autores.
Eles destacam que tais impactos ocorrem não apenas na hora de descartar os equipamentos eletrônicos, mas durante todo o ciclo de vida dos produtos, desde a fabricação ou mesmo antes, com a mineração dos metais pesados usados nas baterias.
Isso cria riscos de toxicidade consideráveis em todo o mundo. Por exemplo, a concentração média de chumbo no sangue de crianças que vivem em Guiyu, na China, destino conhecido de lixo eletrônico, é de 15,2 microgramas por decilitro, contam.
Segundo eles, não há nível seguro estabelecido para exposição ao chumbo, mas recomenda-se ação imediata para níveis acima de 15,2 microgramas por decilitro de sangue.
Os pesquisadores estimam que cada residência nos Estados Unidos guarde, em média, pelo menos quatro itens de lixo eletrônico pequenos (com 4,5 quilos ou menos) e entre dois e três itens grandes (com mais de 4,5 quilos). Isso representaria 747 milhões de itens, com peso superior a 1,36 milhão de toneladas.
O artigo aponta que, apesar do tamanho do problema, 67% da população no país não conhece as restrições e políticas voltadas para o descarte de lixo eletrônico. Além disso, segundo os autores, os Estados Unidos não contam com políticas públicas e fiscalização adequadas para a reciclagem e eliminação de substâncias danosas dos produtos eletrônicos.
Os pesquisadores pedem que os governos dos Estados Unidos e de outros países coloquem em prática medidas urgentes para lidar com os equipamentos eletrônicos descartados. Também destacam a necessidade de se buscar alternativas para os componentes que causem menos impactos à saúde humana e ao ambiente.
O artigo The electronics revolution: from e-wonderland to e-wasteland, de Oladele Ogunseitan e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org. Fonte: Agência FAPESP de 30.10.2009

 

2 – Vergonha Nacional

Desmatamento ainda responde por mais da metade do CO2 lançado pelo Brasil

Estudo divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente mostra que o desmatamento é responsável por pouco mais da metade (51,9%) das emissões de dióxido de carbono do país. A segunda atividade que mais contribui para o aquecimento global é a agropecuária, com 25% das liberações, seguida pelo setor de energia, com 20%. A indústria é responsável por apenas 1,7% das emissões e o tratamento de lixo e esgoto, por 1,4%. Os dados dizem respeito à estimativa de emissões Brasileiras em 2007, ano em que o país teria lançado na atmosfera cerca de 1,9 bilhão de toneladas de CO2 equivalente (soma das liberações de gás carbônico, metano e óxido nitroso).
Em 1994, data do último levantamento semelhante, o desmatamento respondia por 55,2% das emissões Brasileiras de gases ligadas ao efeito estufa. Já a participação do setor energético saltou de 17% para 20% no período, registrando crescimento individual de 54% em 13 anos. A diretora de mudanças climáticas do ministério, Branca Bastos Americano, disse que houve uma clara mudança no perfil das emissões Brasileiras.
– Constatamos uma redução da participação do desmatamento e um aumento expressivo das emissões do setor de energia.
As emissões do setor energético incluem a poluição causada por usinas elétricas, queima de combustíveis no transporte e abastecimento de energia doméstica, entre outras atividades. Na agropecuária, o aumento das liberações de carbono foi de 30%, sendo 25% na criação de gado e 39% nas lavouras. No entanto, a participação do setor no total de emissões Brasileiras permaneceu inalterada, em 25%. Também houve crescimento nas emissões da indústria (56%) e do tratamento de resíduos (32%), mas ambos continuaram a influir pouco na soma das emissões.
Minc diz que desmatamento zero na Amazônia não é factível
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a Embrapa já apresentou propostas para reduzir as emissões na atividade rural. Entre elas, estão o aumento da produtividade do solo, a recuperação de 11 milhões de hectares de áreas degradadas e o incentivo ao plantio direto, técnica que reduz o uso de fertilizantes. Segundo Minc, a combinação dessas três medidas pode reduzir em 7% o total das emissões Brasileiras até 2020.
– A pecuária Brasileira ainda é muito improdutiva. A Amazônia tem áreas com menos de um boi por hectare. Estamos desmatando muito e emitindo muito carbono.
Minc repetiu a promessa de reduzir em 40% as emissões de dióxido de carbono projetadas para 2020. A meta foi calculada de acordo com um cenário de crescimento da economia de 4% ao ano. Segundo Minc, o país poderá alcançar o mesmo corte com um crescimento anual de até 5% na próxima década. Embora a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tenha pedido novos cálculos para uma taxa de crescimento de 6% ao ano, ele disse que o cenário é “altamente improvável”.
– Nunca na história Brasileira a economia cresceu 4% ao ano durante uma década. Essa taxa de 6% é improbabilíssima, a não ser que a gente tome um chá chinês e tenha uma linha chinesa de crescimento.
Mais cedo, o Greenpeace fez um protesto na Esplanada dos Ministérios para que o país assuma metas mais rígidas de redução das emissões de carbono. Os manifestantes pediram que o governo assuma o compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia. Minc reclamou da pressão.
– Eu quero desmatamento zero, pobreza zero e analfabetismo zero. Quando você diz que vai reduzir o desmatamento em 80%, sempre perguntam se você é a favor dos outros 20%. A gente tem que ser menos propagandístico e mais realístico. Fonte: Bernardo Mello Franco, O Globo de 28.10.2009

3 – Asfalto na floresta

– Para uns, “estrada da destruição”; para outros, “rodovia do futuro”, a BR-319 (Porto Velho-Manaus) – construída na década de 70, parte do projeto do governo militar Brasileiro de integrar a Amazônia, e abandonada na década seguinte – é uma síntese dos desafios fundamentais para a região: preservar e desenvolver. O repórter da BBC Brasil, Eric Camara, está percorrendo os quase 900 quilômetros da rodovia – já pavimentados ou ainda esburacados – para ver de perto como o polêmico reasfaltamento da estrada deve afetar a vida dos moradores e a natureza da região.
Porto Velho
Sob um calor inclemente, na rodoviária de Porto Velho, uma passageira cercada de malas e caixas, reclama do preço que pagou pela passagem de avião para voltar de Manaus à capital rondoniense.
Mais de cem quilômetros estrada acima, no assentamento Renascer, a professora primária conta que há cinco anos dá aulas no local e, por falta de transporte público, é obrigada a pegar carona na ida e na volta.
As duas histórias tem como ponto comum a BR-319. No trecho urbano da rodovia, onde fica a rodoviária, a autônoma Hilda Oliveira me contou que pagou R$ 300 pela passagem aérea.
Já a passagem do ônibus da Eucatur que liga Porto Velho a Humaitá, no Amazonas, a última parada na rodovia, é bem mais barata: R$15.
De acordo com o gerente da empresa na capital de Rondônia, Maximino Bedin, se estivesse em operação, o trecho até Manaus chegaria a uns R$ 120 e encheria até seis ônibus por dia.
Até Humaitá são quatro serviços por dia, mas para Márcia da Silva, que ganha menos de R$ 700 por mês como professora da rede municipal, o preço é proibitivo.
Ela teria que pagar o valor do bolso diariamente para saltar no Renascer, um povoado com 68 famílias nas margens da BR-319.
Em vez disso, ela se vira como caroneira para percorrer as quase duas horas que separam o local da capital do estado vizinho.
As duas mulheres veem nos planos de reabertura da estrada a expectativa de uma qualidade de vida melhor.
Hilda de Oliveira diz que visitaria a filha em Manaus mais frequentemente. A professora Márcia sonha com a instituição de transporte público.
O que pude perceber, entretanto, é que pelo menos no caso da professora, mais do que solução direta para os problemas do assentamento Renascer, a BR-319 é vista como uma impalpável esperança no futuro.
Na escola municipal de 80 alunos em que Márcia trabalha não há segundo grau.
“As crianças aqui são praticamente condenadas a parar de estudar, por falta de escola depois do ensino médio”, diz.
Eu pergunto o que a BR-319 tem a ver com isso, e ela me diz que pelo menos assim o governo deve voltar a olhar para as pessoas que vivem à beira dela.
Parque Nacional do Mapinguari
Para quem não conhece, os arbustos e árvores baixas podem até dar a impressão de que a área foi desmatada recentemente, mas o chamado cerrado amazônico é tudo menos isso.
São campos considerados minas de ouro para cientistas – viveiros da biodiversidade amazônica.
Foi em uma dessas regiões de cerrado amazônico que uma nova espécie de gralha foi registrada pela primeira vez pelo pesquisador Mario Cohn-Haft, há menos de um ano.
Ao longo da BR-319, há diversos campos como estes, que podem ser vistos em imagens de satélites.
Eles aparecem como manchas amarelas que – para os leigos, é bom repetir – podem parecer focos de desmatamento. A diferença é que esses tais “focos” ao longo da BR-319 ficam em locais bastante inacessíveis.
Só se chega até eles com um mateiro e várias horas abrindo trilhas floresta adentro.
Por isso é que decidimos pegar um atalho: fomos até o recém-criado Parque Nacional do Mapinguari.
Lá vimos cotias, araras, muitas andorinhas, papagaios e até rastros de anta, o maior mamífero da América do Sul.
Da “nova” gralha, nada. Mas tudo bem, tivemos uma bela impressão do que os inimigos da reabertura da BR-319 dizem estar sob risco de sobrevivência, caso ela realmente seja inteiramente recuperada.
A partir desta segunda-feira, vamos começar a encontrar as pessoas que vivem às margens da rodovia, muitas vezes em condições de pobreza com enormes dificuldades de acesso a serviços básicos, como saúde e educação.
Não vou ficar surpreso, se descobrir que para essas populações, a importância da incrível biodiversidade amazônica fique em segundo plano, diante da necessidade de, por exemplo, chegar rapidamente a um hospital.
Antes da partida
Para uns, “estrada da destruição”; para outros, “rodovia do futuro”, a BR-319 (Porto Velho-Manaus) – construída na década de 70, parte do projeto do governo militar Brasileiro de integrar a Amazônia, e abandonada na década seguinte – é uma síntese dos desafios fundamentais para a região: preservar e desenvolver.
A partir de segunda-feira, a BBC Brasil vai percorrer os quase 900 quilômetros da rodovia – já pavimentados ou ainda esburacados – para ver de perto como o polêmico reasfaltamento da estrada deve afetar a vida dos moradores e a natureza da região.
De Porto Velho a Manaus, a nossa equipe vai trazer diariamente vídeos, fotos, sons e reportagens sobre as condições das comunidades e da natureza exuberante da região.
Faltando pouco mais de um mês para o início da reunião sobre mudanças climáticas das Nações Unidas em Copenhague, na Dinamarca, o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento na Amazônia Brasileira assume proporções globais.
O desmatamento é responsável por cerca de 20% das emissões dos gases que provocam o efeito estufa no planeta. No Brasil, de acordo com os dados oficiais (de 1994), ele responde por mais de 70% das emissões nacionais.
Se, como criticam os adversários do projeto, o reasfaltamento da BR-319 levar à derrubada da floresta, o Brasil vai ter dificuldades em manter os compromissos de desmatamento já assumidos internacionalmente, como parte do programa nacional de combate às mudanças climáticas.
Os defensores da ideia, no entanto, afirmam que todas as medidas possíveis para resguardar a floresta estão sendo tomadas e que não pavimentar a rodovia é condenar as populações da região ao abandono.
Acompanhe a expedição da BBC pelo mapa interativo na nossa página www.bbcBrasil.com e pelo Twitter (bbcamazonia) para viver com os nossos repórteres o dia-a-dia na BR-319 e tirar as suas próprias conclusões sobre a polêmica. BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. Fonte: O Estado de São Paulo de 28.10.2009.