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Informativo 103 – Tiranossauros, lodo, árvores, macaco

1 – Cientistas acham avô nanico dos tiranossauros na China

2 – Estudo da EMBRAPA mostra que uso de lodo de esgoto como adubo para cultura agrícola pode contaminar o solo

3 – Pesquisadores no EUA descobrem “ENERGIA VERDE” extraída de árvores vivas

4 – Terapia gênica faz macoco daltônico ver qualquer cor

 

1 – Cientistas acham avô nanico dos tiranossauros na China

Espécie descoberta, de 3 metros, vivia há 130 milhões de anos
Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:

O passado do dinossauro mais famoso do mundo é totalmente diferente do que os cientistas andavam imaginando há décadas. O culpado pela reviravolta é o (relativamente) pequeno Raptorex kriegsteini, de 3 m e 130 milhões de anos de idade, que só pode ser descrito como uma miniatura, nos menores detalhes, dos tiranossauros. A descoberta, descrita na edição eletrônica da revista “Science”, deixou boquiabertos os próprios paleontólogos que descreveram o bicho.
“Como toda criança sabe, os tiranossauros tinham uma cabeça gigantesca e patas da frente pateticamente pequenas”, diz Stephen Brusatte, do Museu Americano de História Natural. “Todo mundo achava que esses traços estranhos eram consequência do tamanho gigantesco [12 m e 6 toneladas] que esses bichos atingiram. O Raptorex acaba com essa ideia”, diz o paleontólogo, que é coautor da pesquisa.
“Lembre-se de que o Tyrannosaurus rex só viveu há 65 milhões de anos. O que nós estamos vendo é que o mesmo design estava disponível desde muito antes. Esses traços provavelmente surgiram num predador ágil, corredor, que usava suas imensas mandíbulas para arrancar pedaços das vítimas. Era isso que definia os tiranossauros: eles eram bocarras com pernas, basicamente”, completa Paul Sereno, da Universidade de Chicago, que também assina o estudo.
Esse design deu tão certo que os sucessores do Raptorex viraram os únicos predadores do hemisfério Norte nos últimos 25 milhões da era dos dinossauros.
Além da importância puramente científica do achado, a descoberta também serviu como um golpe contra o comércio ilegal de fósseis. Sereno conta que o fóssil chegou às suas mãos por meio de um colecionador, o médico Henry Kriegstein.
“Esse fóssil foi obtido na China na calada da noite, contrabandeado e comprado aqui nos EUA. Kriegstein pediu que eu descrevesse a espécie. Eu disse que topava, mas apenas se o fóssil fosse devolvido à China”, afirma Sereno. Dois pesquisadores chineses, aliás, também assinam a descrição da espécie.
(Folha de SP, 18/9)

 

2 – Estudo da EMBRAPA mostra que uso de lodo de esgoto como adubo para cultura agrícola pode contaminar o solo

 

Alerta para o lodo – As estações de tratamento de esgoto produzem grandes quantidades de lodo como resíduos dos processos ali utilizados. Para que a destinação desse material deixe de ser um problema ambiental de grande escala e se torne uma solução agrícola, uma das alternativas mais promissoras é o uso do lodo de esgoto – rico em matéria orgânica, fósforo e nitrogênio – como adubo de plantas cultivadas.

Mas um novo estudo feito por um grupo da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), mostrou que o uso de lodo de esgoto em uma cultura de milho pode resultar, a médio e longo prazo, em contaminação do solo com hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs).
HPAs são compostos orgânicos hidrofóbicos, não polares, formados por dois ou mais anéis benzênicos e constituídos exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio. As propriedades físico-químicas dos HPAs – como solubilidade em água, peso molecular e pressão de vapor – são, em grande parte, determinadas pelas ligações duplas conjugadas que variam com o número de anéis.
Os HPAs, de acordo com Lourival Costa Paraíba, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente que coordenou o estudo, são compostos químicos geralmente formados a partir da queima incompleta de material orgânico, cuja presença foi observada em amostras de lodos.
“Essas substâncias, poluentes orgânicos de grande persistência no meio ambiente, são nocivas a diversos organismos aquáticos e terrestres. Alguns deles são carcinogênicos ou mutagênicos”, disse Paraíba à Agência FAPESP.
Segundo ele, os resultados do projeto são importantes porque fornecem subsídios e orientação para decisões técnicas e políticas no sentido de cultivar ou não plantas utilizando lodo de esgotos. A pesquisa “Bioconcentração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em grãos de milho cultivados em solos com lodo de esgoto” tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
“Embora saibamos que o lodo tem vários nutrientes, ele também possui poluentes. O estudo mostrou que o seu uso deve ser feito com muito critério e muita pesquisa. E, principalmente, que a sociedade precisa saber quando estiver consumindo um produto cultivado com lodo de esgoto”, afirmou.
De acordo com o estudo, os níveis de HPAs encontrados no milho não chegaram a afetar sua segurança para consumo. Mas os níveis encontrados no solo podem comprometê-lo a médio e longo prazo, com o uso contínuo do lodo.
“Além dos HPAs, certos lodos de esgoto podem contaminar cultivos agrícolas, solos, águas superficiais e subterrâneas com nitratos, metais pesados, patógenos, além de outros compostos orgânicos persistentes”, acrescentou Paraíba, que é matemático e ingressou na Embrapa em 1989.
Níveis de hidrocarbonetos
Além de Paraíba, que foi responsável pela modelagem matemática, a equipe de pesquisa contou com outros pesquisadores da área de química, além de pessoal de apoio no laboratório e campo experimental.
“O objetivo foi avaliar a segurança do uso de lodo de esgoto como adubo de plantas cultivadas. Para isso, investigamos a absorção de algumas substâncias orgânicas presentes no lodo por plantas de milho. Pela primeira vez no Brasil observamos os níveis de HPAs em grãos de milho cultivados em áreas com histórico de aplicações de lodo de esgoto”, disse.
Os pesquisadores mediram os níveis de resíduos de 16 diferentes HPAs em amostras de solos e de grãos de milho cultivados na estação experimental da Embrapa Meio Ambiente. A área foi utilizada durante seis anos consecutivos para o cultivo de milho com lodo.
De acordo com Paraíba, o estudo teve dois focos em relação à medição de níveis de HPAs: verificar a presença desses compostos no solo e verificar se eles se deslocam do solo para a planta.

“Os níveis de HPAs nas amostras de solo da estação experimental foram de cerca de 290 microgramas por quilo – considerada baixa contaminação para os padrões internacionais. Pudemos comparar os resultados cuja medição foi feita em solos onde não se utilizou lodo de esgoto, nos quais os níveis estiveram em cerca de 105 microgramas por quilo”, disse.
Segundo Paraíba, modelos matemáticos foram utilizados para indicar se os HPAs têm chance de chegar na parte superior da planta. Para confirmar esses dados e validar o modelo, análises do solo e dos grãos de milho foram realizadas utilizando a técnica de cromatografia gasosa com detector seletivo de massas. Essa parte da pesquisa foi coordenada por Sonia Queiroz, responsável pelo Laboratório de Resíduos e Contaminantes da Embrapa Meio Ambiente.
“Os HPAs detectados em grãos de milho tinham de dois a quatro anéis aromáticos com mediana afinidade a lipídio e baixa solubilidade em água”, disse o pesquisador. Fonte: Fábio Castro, Agência FAPESP

 

3 – Pesquisadores no EUA descobrem “ENERGIA VERDE” extraída de árvores vivas

 

Eletrodos acoplados a árvores podem obter até 200 milivolts. Energia pode ser utilizada para alimentar pequenos circuitos elétricos.
É comum batizar de “energia verde” as fontes de energia renováveis e que não agridem o meio ambiente, como a energia solar, eólica ou a obtida a partir do movimento das ondas. Mas pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, descobriram uma nova fonte de energia limpa que permite levar a expressão ao pé da letra: as árvores.
Uma equipe formada por alunos e professores do curso de engenharia elétrica descobriu que as árvores produzem pequenas quantidades de energia, da ordem dos milivolts (milésimos de volt), que podem ser medidas e aproveitadas para alimentar pequenos aparelhos eletrônicos. O valor exato varia de árvore para árvore, mas a equipe conseguiu determinar que em espécies como o Bordo ela pode chegar a até 200 milivolts.
É pouco, mas com a ajuda de conversores CC-CC, também projetados pela equipe e que aumentam a tensão para aproximadamente 1,1 V, é o suficiente para alimentar circuitos de baixíssimo consumo, como sensores que poderiam ser usados para detectar incêndios florestais ou monitorar a saúde das próprias árvores.
Segundo o professor Babak Parviz, um dos líderes da equipe, não se sabe exatamente qual mecanismo resulta na produção de energia. Sabe-se. contudo, que não se trata da conhecida reação entre dois eletrodos de metais diferentes (como cobre e alumínio) mergulhados em uma solução eletrolítica – por exemplo, espetados em um limão ou batata. No caso da “energia das árvores”, a eletricidade é gerada independentemente dentro da planta e apenas coletada pelas lâminas. Uma prova disso é que o efeito demonstrado pela equipe da Universidade de Washington ocorre com eletrodos compostos pelo mesmo metal, além do fato de que um deles não é cravado no tronco da árvore e sim inserido no solo, próximo às raízes. Fonte: Antonio Blanc, Portal do Meio Ambiente

4 – Terapia gênica faz macoco daltônico ver qualquer cor

Vírus com DNA humano evitou que bichos confundissem o vermelho e o verde
Terapia para pessoas com a dificuldade é possível, mas ainda deve demorar anos, afirmam pesquisadores; 8% de homens são afetados
Cientistas americanos fizeram com que dois macacos de uma espécie naturalmente daltônica parassem de confundir vermelho com verde. Como os seus cérebros e os seus olhos são parecidos com os humanos, isso significa que, no futuro, pessoas poderiam ser curadas com a terapia criada -cerca de 8% dos homens são daltônicos.
Os pesquisadores estão animados porque Sam e Dalton são macacos adultos. Cogitava-se, anteriormente, que uma eventual cura só funcionaria em indivíduos cujo cérebro ainda estivesse em desenvolvimento e pudesse se adaptar. O trabalho feito nos EUA mostra que isso não é verdade.
Ele foi publicado hoje na revista “Nature”. Consistiu em injetar um vírus nas células sensíveis à luz da retina dos animais. Ele carregava um gene “corretivo”, de origem humana.
Os seres humanos têm a chamada visão tricromática. Os cones, células que captam cores na retina, sintetizam pigmentos sensíveis à luz azul, verde e vermelha. Os macacos-de-cheiro, espécie amazônica usada na experiência, são bicromatas: seus cones não fabricam o pigmento sensível ao vermelho, o que faz com que eles não consigam distinguir essa cor.
Da mesma forma como gene para o pigmento vermelho foi inserido nos macacos, os pesquisadores acreditam que é possível corrigir a mutação que causa o daltonismo -depois que os problemas de segurança da técnica forem resolvidos.
“Nós estamos otimistas. De qualquer forma, determinar a segurança é um processo bem longo. Serão necessários vários anos para que uma cura para o daltonismo em humanos esteja disponível”, disse à Folha Katherine Mancuso, da Universidade de Washington.
É preciso ser criativo para saber se um macaco está vendo todas as cores. Os cientistas bolaram uma experiência, aproveitando-se da paixão desses macaquinhos por suco de uva.
Eles eram postos na frente de uma tela sensível ao toque, com desenhos de bolinhas de várias cores. Se conseguissem se manter apertando sempre a mesma cor, eram recompensados com suco. Senão, nada.
Como humanos no bar, eles ficavam empolgados com o líquido. Mas, antes do tratamento, perdiam-se cada vez que as cores mudavam de lugar. Depois a terapia, nunca mais trocaram o verde pelo vermelho.
O daltonismo atinge principalmente em homens brancos. A doença foi descoberta pelo britânico John Dalton, que não sabia diferenciar verde do vermelho, no século 18. Fonte: Ricardo Mioto, Folha de São Paulo de 17.09.2009.