Fechar menu lateral

Informativo 78 – Pterossauro e vírus

1 – Fóssil revela “asa inteligente” de pterossauro

2 – O voo dos pterossauros reexplicado

3 – Contra-ataque aos vírus

 

1 – Fóssil revela “asa inteligente” de pterossauro

 

Sistema de fibras pode ter ajudado réptil voador a controlar seu desempenho nos céus, afirma paleontólogo brasileiro. Espécime chinês com alto grau de preservação, de 130 milhões de anos, traz também pista sobre suposta presença de pelos no bicho

Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:

Os engenheiros aeronáuticos do século 21 talvez possam aprender alguns truques com répteis alados de 130 milhões de anos. Uma pesquisa apresentada ontem por uma equipe internacional, incluindo uma dupla de brasileiros, sugere que camadas especializadas de fibras nas asas dos bichos permitiam ajustes sutis dos movimentos deles no ar – uma espécie de “voo inteligente” em pleno período Cretáceo. A conclusão vem da nova análise de um fóssil maravilhosamente bem preservado, o pterossauro chinês Jeholopterus ningchengensis, cujas asas mediam cerca de 90 cm de uma ponta à outra. Por um golpe de sorte pré-histórico, não apenas os ossos, mas também boa parte dos tecidos moles do bicho sobreviveram ao tempo. Entre esses tecidos estão as asas membranosas, parecidas com as de morcegos e típicas de todos os pterossauros.

Fly by wire

A semelhança com os atuais mamíferos voadores, no entanto, é apenas superficial. Para o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os pterossauros provavelmente punham seus sucessores no chinelo. “A membrana dos morcegos é menos espessa e muito mais simples que a dos pterossauros”, disse Kellner à Folha. “Claramente o voo desses animais era bem mais sofisticado do que a gente imaginava.” Kellner e seus colegas, como o também brasileiro Diógenes de Almeida Campos e paleontólogos da China e da Alemanha, publicaram sua análise do fóssil na edição desta semana da revista científica britânica “Proceedings of the Royal Society B”. Com a ajuda de luz ultravioleta, os pesquisadores conseguiram ver detalhes milimétricos da membrana das asas, que dão apoio à hipótese de que ela sofria modificações sutis para se ajustar às necessidades de voo do animal. O sinal mais claro disso são três camadas diferentes de pequenas fibras, as chamadas actinofibrilas, dispostas em orientações diferentes (na vertical ou na horizontal, o que, no fóssil, dá a impressão de um tabuleiro de xadrez, porque as camadas foram “amassadas” pelos processos geológicos). “Nós só vamos poder confirmar o que eram essas fibras com uma análise da estrutura microscópica delas. Acredito que eram fibras musculares. De qualquer maneira, elas obrigatoriamente influenciavam a estrutura da asa e são condizentes com a ideia de que o animal era capaz de ajeitá-la durante o voo”, afirma Kellner. Comprimindo ou distendendo as fibras entre si, o bicho poderia, por exemplo, modificar ativamente a resistência de sua membrana ao ar, tornando-a mais ou menos rígida. Para Kellner, o achado confirma que os pterossauros não eram meros planadores, mas voadores ativos e sofisticados.

Nem pelado nem peludo

A nova análise do fóssil também pode acabar com uma velha dúvida: afinal, os pterossauros tinham pelos? A ideia de uma cobertura pilosa parece esquisitice pura em se tratando de um réptil, mas alguns fósseis bem preservados já tinham indicado essa possibilidade. Kellner e seus colegas, ao examinar estruturas vagamente parecidas com pelos no corpo do bicho, dizem ter determinado que elas não se parecem exatamente nem com as penas das aves nem com os pelos dos mamíferos. No entanto, podem ter tido uma função similar: conservar o calor do corpo. “Nós preferimos chamar esses supostos pelos de picnofibras, ou seja, fibras densas. Ao toque, talvez elas fossem parecidas com uma vassoura de piaçava, mais duras e eriçadas”, compara Kellner. É possível que pterossauros de diferentes regiões tivessem mais ou menos picnofibras, dependendo do clima de cada lugar. (Folha de SP, 6/8)

2 – O voo dos pterossauros reexplicado, coluna de Alexander Kellner

Tecidos moles de fósseis chineses levam a um novo entendimento da membrana alar desses répteis A descrição de um pterossauro encontrado na China em excepcional estado de preservação está levando os paleontólogos a reavaliar tudo o que acreditavam saber sobre o voo desses répteis alados. A análise de tecidos moles desse animal mostrou que ele tinha absoluto controle sobre o voo. Alexander Kellner, um dos autores da descoberta, discute a novidade em sua coluna de agosto. Leia a coluna completa na CH On-line, que tem conteúdo exclusivo atualizado diariamente: http://cienciahoje.uol.com.br/150433″>http://cienciahoje.uol.com.br/150433

 

 

3 – Contra-ataque aos vírus

 

 

 

Estudo genético promete levar a novas armas contra Aids e gripe

Pela primeira vez, cientistas decifraram a estrutura completa do genoma do vírus HIV. O estudo de pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, permitirá entender melhor as estratégias que o microorganismo usa ao infectar os seres humanos e ainda ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos contra infecções virais, inclusive as gripes letais e os resfriados comuns. Segundo os autores, o estudo abre muitas oportunidades para a pesquisa de novas drogas contra vírus. – Há uma lista enorme de coisas que podemos tentar – afirmou o cientista Kevin Weeks, da Universidade da Carolina do Norte e principal autor do trabalho, publicado esta semana na “Nature”. A técnica se mostrou eficiente para decifrar o genoma de vírus de RNA, como o HIV. Tal como o vírus da gripe, da poliomielite e outros que causam resfriados, o da Aids usa RNA em vez do DNA (molécula de ácido desoxirribonucleico) para se multiplicar. Enquanto o DNA depende da construção de blocos chamados nucleotídeos para transportar as informações em suas duas fitas, o RNA tem apenas uma fita. Então ele depende de padrões complexos para carregar os dados genéticos.

Remédios mais eficazes

Há grande estrutura no genoma do RNA do HIV que antes tinha um papel quase desconhecido na expressão do código genético, disse Weeks. A sua equipe desenvolveu uma técnica chamada SHAPE para fazer imagem não só dos nucleotídeos do RNA, mas das formas e dobras da sua fita. Outros métodos de imagem, tais como a cristalografia por raios X, podem capturar a posição exata de cada átomo, mas apenas uma pequena área de cada vez. A tecnologia SHAPE permite um panorama maior, mas não a nível atômico. – É o mesmo que fazer um zoom num mapa para obter uma perspectiva mais ampla do cenário, à custa de detalhes finos – comentou o cientista Hashim Al Hashimi da Universidade de Michigan, em artigo publicado na “Nature”. Com essa análise será mais fácil criar novos fármacos, acreditam os autores. Os medicamentos novos são freqüentemente projetados para se encaixar em estruturas específicas num vírus, impedindo que ele possa grudar numa célula ou complicando a sua replicação. Porém, é difícil se defender de vírus de RNA. Há mais de 20 drogas contra o HIV e elas exigem várias combinações para mantê-lo sob controle. Muitas cepas de gripe, por exemplo, resistem aos antivirais antigos e algumas ainda sofrem mutações, dificultando o ataque com drogas modernas, como o Tamiflu. Segundo Weeks, a nova técnica de exame de imagem vai ajudar a pesquisadores a buscar novas abordagens de tratamento. Cientistas apostam em medicamentos chamados siRNAE. Eles atacam o funcionamento do RNA e podem interferir nas células com defeito ou bactérias e vírus. Alguns laboratórios já trabalham com esse enfoque.

Variante aumenta mistério

Cientistas europeus descobriram uma nova linhagem de HIV e a associaram a gorilas. Não se sabe quando e como foi contraída pela primeira vez por um ser humano. Trata-se da primeira vez que cientistas identificam um caso de transmissão de um vírus de imunodeficiência de um gorila para seres humanos. Todas as linhagens conhecidas do vírus HIV são associadas a vírus de chimpanzés que sofreram mutações e originaram microorganismos capazes de infectar seres humanos. A explicação mais provável para o surgimento do novo vírus é que ele seja resultado do abate de gorilas para consumo da carne. Outra possibilidade é que o vírus tenha surgido em chimpanzés, sido transmitido para gorilas e só depois passado para seres humanos. O novo vírus foi isolado em 2004, mas sua identificação só foi concluída recentemente, apresentada num artigo na revista “Nature Medicine”. O vírus foi encontrado em amostras do sangue de uma mulher de 62 anos, logo após esta chegar a Paris, proveniente da República de Camarões, na África. A mulher não manifestou qualquer sintoma específico da Aids. Porém, relatou ter começado a perder peso em 2003 e ter sofrido vários episódios de febre.Os autores do estudo acreditam que a mulher contraiu o vírus em relações sexuais. Ele contou que teve vários parceiros em seu país, mas não sabe se algum deles tem Aids. Para os cientistas, outras pessoas foram contaminadas em Camarões e o caso da mulher não seria o primeiro. (O Globo, 6/8)