1 – Pesquisadores brasileiros criam carne em pó
2 – Empresas planejam adaptação climática
1 – Pesquisadores brasileiros criam carne em pó
Produto para pessoas com dificuldade de mastigar deve ser mais barato do que suplementos de proteína
Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”:
Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma carne em pó que promete melhorar a qualidade de vida das pessoas que precisam dos nutrientes da carne, mas não conseguem mastigar. Os beneficiados incluem, por exemplo, pacientes com Alzheimer, Parkinson, AVC e lábio leporino. Doentes com câncer ou pessoas submetidas à cirurgia de redução de estômago também podem ser beneficiados.
A nutricionista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Suely Prieto de Barros, responsável pela ideia do produto, explica que a carne em pó será mais acessível do que os suplementos de proteína disponíveis no mercado, feitos a base de soja, milho, maltodextrinas e aminoácidos sintéticos. “Será, no mínimo, 60% mais barato”, aponta Suely.
Cada 100 gramas da carne em pó contém cerca de 10 gramas de aminoácidos essenciais – peças fundamentais para a construção das proteínas. Uma quantidade idêntica de carne teria 20% mais aminoácidos, o que comprova a manutenção da maior parte dos nutrientes no produto em pó.
Os níveis de cálcio, ferro e sódio também são semelhantes ao da carne não processada. Por outro lado, as gorduras saturadas estão presentes em menor quantidade do que em carnes magras. O produto pode acompanhar receitas doces e salgadas, como sopas ou vitaminas.
História
Há 24 anos, Suely cuida de crianças com lábio leporino no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, em Bauru. Em dezembro, sugeriu ao Grupo Bertin a criação do produto. Duas semanas após, foi procurada para iniciar testes com um primeiro lote.
A empresa espera conseguir a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2010. A nutricionista Silvia Justina Papini-Berto, da Unesp de Botucatu (SP), recorda quando serviu sopa com carne em pó a um grupo de 32 pessoas. “Todos aprovaram o sabor.”
(O Estado de SP, 25/7)
2 – Empresas planejam adaptação climática
Aquecimento global preocupa agricultura e o setor de seguros, mas mudança do clima trará também oportunidades de ganho. Empresários já investem em estudos para compreender o novo cenário do clima
André Palhano escreve para a “Folha de SP”:
No momento em que grandes empresas começam a planejar ações de mitigação para conter o aquecimento global, sobretudo as relacionadas à emissão dos gases-estufa, especialistas começam a levantar uma bandeira que deve ter importância crescente para o mundo corporativo nos próximos anos: o ajuste da economia e da sociedade para os eventos climáticos que já não podem ser evitados. É o que os cientistas chamam de “adaptação”.
Secas fora de época, tempestades com elevado poder de destruição e ondas de calor alterando as correntes atmosféricas são alguns desses eventos, quase sempre com impactos econômicos e sociais significativos nas regiões afetadas. Como fogem de padrões históricos, são praticamente impossíveis de prever com precisão. E se tornaram uma verdadeira dor de cabeça para setores como a agricultura, as indústrias de seguros e de energia.
“Há uma tendência entre os cientistas de que os esforços hoje deveriam ser mais canalizados para a questão da adaptação do que da mitigação. É como concentrar esforços para tirar um paciente da UTI e depois ver o que é possível fazer em seu tratamento”, explicou à Folha o pesquisador titular sênior do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Enio Bueno Pereira.
Segundo proposta do grupo WWF para a Conferência do Clima de Copenhague, na Dinamarca, onde serão decididos os próximos passos do planeta na questão do aquecimento global, dos US$ 160 bilhões que deveriam ser canalizados pelos países industrializados para solucionar o problema, US$ 56 bilhões correspondem a atividades de adaptação. O investimento na mitigação e na difusão de tecnologias voltadas à mitigação, o segundo mais representativo da proposta, soma US$ 55 bilhões.
De acordo com o pesquisador do Inpe, o aumento na intensidade e na irregularidade dos eventos climáticos no Brasil gera visível interesse das companhias pelo assunto. A Petrobras, por exemplo, encomendou ao Inpe um estudo sobre o efeito das mudanças climáticas nas correntes de vento em todo o país. O objetivo: detectar o potencial de expansão da geração de energia eólica a partir da nova realidade do clima.
De olho nos crescentes gastos com indenizações relacionadas ao clima, a indústria de seguros é outro setor interessado no assunto. Os gastos anuais com indenizações no mundo saltaram de um patamar médio de US$ 5 bilhões na década de 80 para US$ 30 bilhões entre 2000 e 2006. Para a próxima década (2010-2019), estima-se que esse número suba para US$ 40 bilhões. O motivo? Catástrofes naturais, boa parte delas relacionada ao clima.
Em linha com esse interesse, o grupo segurador Allianz patrocina um dos mais importantes estudos sobre as mudanças climáticas, que acompanha a cada ano as ações dos países desenvolvidos e das cinco principais economias em desenvolvimento (entre elas o Brasil) para mitigar suas emissões, o G8 Climate Scorecards, feito em parceria com o WWF.
Na mais recente edição do estudo, divulgada recentemente, Canadá e Rússia foram reprovados no teste por aumentarem continuamente suas emissões de gases. Coincidência ou não, os dois países são dos poucos a serem beneficiados com o aquecimento global, uma vez que a elevação da temperatura média do planeta ampliará de maneira importante suas áreas agricultáveis, hoje sob o gelo.
De todos os setores econômicos, no entanto, a agricultura é de longe o mais afetado pelas mudanças climáticas. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, os produtores rurais brasileiros amargaram prejuízos de quase R$ 2 bilhões por causa de eventos climáticos como chuvas torrenciais no Piauí, estiagem no Paraná e seca em Santa Catarina.
“Ainda que não se saiba quais desses eventos são provocados diretamente pelo aquecimento global, não existe mais dúvida de que os eventos climáticos estão cada vez mais intensos e cada vez menos regulares, afetando diretamente a agricultura”, diz o superintendente de Agronegócios da Allianz, Luiz Carlos Meleiro.
Segundo os especialistas, os setores da economia afetados pelas mudanças climáticas não se restringem, entretanto, àqueles nos quais esses efeitos são mais óbvios. É o caso, por exemplo, do segmento de turismo, que movimenta bilhões de dólares todos os anos, ou o de transportes, uma vez que a adaptação poderá exigir alterações profundas no modo como as pessoas se locomovem (a poluição dos carros, por exemplo, é hoje o principal problema climático da cidade de São Paulo).
“A crise climática pode ser pior do que a atual crise financeira em termos de prejuízos econômicos. E, infelizmente, não temos ainda no Brasil uma discussão que envolva os diferentes setores da sociedade sobre o aquecimento global”, afirma a analista sênior do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF Brasil, Karen Suassuna.
Plano nacional sobre o clima não avançou
A discussão sobre políticas de adaptação às mudanças climáticas ainda engatinha no Brasil. Entre os poucos avanços obtidos, destaca-se a aprovação, em junho deste ano, do projeto de lei que instituiu em São Paulo a Política Municipal de Mudança do Clima, com definições sobre o que deve ser feito para tornar o processo de adaptação menos custoso e mais eficiente para a sociedade local.
Há pouco mais de um mês, especialistas do Inpe e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) também formaram o “Painel Internacional de Especialistas em Megacidades, Vulnerabilidade e Mudança Climática Global”, que pretende mapear as principais vulnerabilidades de São Paulo e do Rio de Janeiro quanto ao aquecimento global e, a partir delas, traçar as ações necessárias de adaptação.
O Plano Nacional de Mudanças Climáticas, do governo federal, também prevê ações de adaptação, mas nenhuma delas chegou a avançar de fato.
Nos países desenvolvidos, a discussão se encontra mais avançada. Em Londres, por exemplo, o governo definiu há um ano uma série de ações de adaptação ligadas ao transporte público, ao sistema de saúde e à economia local, todas reunidas em um amplo relatório intitulado “Estratégia de Adaptação de Londres para as Mudanças Climáticas”, que pode ser encontrado na internet, no site http://www.london.gov.uk/mayor/environment/climate-change/ccap/index.jsp.
A Prefeitura de Nova York tem um site com informações e debates sobre o planejamento da cidade para o ano de 2030 dentro de um cenário de aquecimento global (http://www.nyc.gov/planyc2030).
(Folha de SP, 28/7)