1 – Metas de preservação da biodiversidade falham
2 – Aquecimento global causa encolhimento de carneiros
3 – Um novo e severo El Nino
1 – Metas de preservação da biodiversidade falham
Relatório União Internacional para a Conservação da Natureza aponta incapacidade de reduzir extinção de espécies
Os governos não estão conseguindo deter a rápida deterioração da biodiversidade do planeta, conforme acordado, denuncia um novo relatório feito a partir da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). O documento mostra que 869 espécies já foram extintas ao longo dos últimos séculos e que, atualmente, 17 mil espécies estão ameaçadas de extinção.
“A vida na Terra está sob séria ameaça”, conclui o documento, lembrando ainda que apenas 2,7% das 1,8 milhão de espécies descritas foram já analisadas. O que significa que o número deve ser bem maior.
Por isso, o estudo sustenta que a meta de “reduzir significativamente” as perdas de biodiversidade até 2010 – como acordado pela Convenção da Diversidade Biológica, da qual o Brasil é signatário – dificilmente será atingida.
O documento cobra também ações mais efetivas das autoridades mundiais na preservação da vida no planeta, a exemplo das que foram adotadas na crise econômica.
– Queremos apenas que os mesmos esforços para salvar o setor financeiro sejam feitos para proteger a biodiversidade – diz Jean-Christophe Vie, diretor da IUCN. – A crise da biodiversidade é mais severa do que a crise financeira.
(O Globo, 3/7)
2 – Aquecimento global causa encolhimento de carneiros
Estudo em ilha escocesa mostra que inverno quente favorece animal pequeno. Redução no tamanho foi de 5% nos últimos 25 anos, afirma grupo dos EUA e do Reino Unido; o esperado era tendência ao crescimento
Afra Balazina escreve para a “Folha de SP”:
Uma população de carneiros de uma ilha da Escócia está encolhendo. E o provável culpado, segundo cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos, é o aquecimento global.
A teoria evolutiva indica que, ao longo do tempo, naquela região fria, o tamanho médio dos carneiros deveria aumentar – os maiores teriam maior probabilidade de sobreviver e de se reproduzir do que os menores.
Porém, os invernos na região da ilha Hirta (no arquipélago St. Kilda), onde vivem os carneiros-de-soay, ficaram menos rigorosos. Consequentemente, são mais fáceis de serem enfrentados e, por isso, hoje os animais menores são mais capazes de sobreviver à estação.
A pesquisa mostra que os animais estudados estão, em média, 5% menores hoje do que em 1985, quando o trabalho teve início. O líder da pesquisa, Tim Coulson, do Departamento de Ciências da Vida do Imperial College de Londres, disse à Folha que “a evolução é causada pela seleção natural, e as alterações climáticas têm alterado a forma como ela funciona”.
Ele explica: “No passado, só os carneiros grandes e saudáveis, que ganharam peso em seu primeiro verão, poderiam sobreviver ao inverno em Hirta. Mas agora, devido às alterações climáticas, o capim que serve de alimento aos animais está disponível por mais meses e as condições de sobrevivência não são tão desafiadoras”.
Seus resultados, publicados na edição on-line do periódico “Science”, sugerem que o encolhimento dos ovinos é uma resposta à variação ambiental nos últimos 25 anos e que a evolução contribuiu relativamente pouco neste processo.
Os pesquisadores também descobriram que a idade em que a mãe tem a prole influencia seu tamanho. As jovens ovelhas-de-soay são fisicamente incapazes de produzir descendentes que sejam tão grandes quanto elas eram ao nascer.
“O efeito da mãe jovem explica por que os ovinos não estão ficando maiores, como esperávamos. Mas não é suficiente para explicar porque estão encolhendo”, afirma Coulson.
Ele diz que o efeito da mãe jovem e o aquecimento global são dois fatores que se combinam para se sobrepor ao efeito esperado da seleção natural.
Segundo o paleontólogo Jorge Ferigolo, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, especialista em evolução dos mamíferos, nesses animais a regra geral tem sido o aumento no tamanho ao longo do tempo.
Segundo o pesquisador brasileiro, “raramente se vê uma redução no tamanho durante a evolução de algum grupo”. Portanto, uma redução observada por um “tempo muito limitado e numa área muito limitada” pode ser simplesmente uma resposta dos organismos a solicitações do meio.
Ferigolo afirma que isso não significa que a mudança do clima tenha passado por cima da evolução. “Nem sempre mudanças significam modificações evolutivas; elas podem se reverter. Quer dizer, tais modificações teriam que ser fixadas geneticamente para serem parte da evolução”, diz.
(Folha de SP, 3/7)
3 – Um novo e severo El Nino
Fenômeno climático pode tornar mais violentas as tempestades no Atlântico
El Niño teria uma segunda forma, revela um novo estudo, capaz de provocar tempestades mais severas no Atlântico. Já se sabe há algum tempo que o aquecimento sazonal do Oceano Pacífico afeta o clima global, mas os pesquisadores dizem agora que o fenômeno ocorreria em duas formas diferentes, com impactos diversos, principalmente no Atlântico.
O El Niño tradicional tende a impor uma redução no número de furacões no Atlântico. Mas a nova face do fenômeno, que os cientistas da Georgia Tech University batizaram de El Niño Modoki (similar, mas diferente, em japonês), provocaria uma temporada bem mais intensa. Como acontece com La Niña, caracterizada pelo resfriamento das águas do Pacífico.
O El Niño tradicional envolve o aquecimento periódico (em geral no fim de dezembro) das águas do Pacífico oriental. O Modoki, por sua vez, também envolve o aquecimento, mas ocorre bem mais a oeste, na parte central do oceano. Os cientistas ainda não sabem por que esta nova forma de El Niño está ocorrendo.
Peter Webster, da Escola de Ciências Terrestres e Atmosféricas da Universidade e co-autor do estudo publicado na “Science”, afirmou: – Pode ser uma resposta a uma oscilação climática natural ou pode ser uma reação ao aquecimento global.
A despeito das causas, a maior compreensão do fenômeno, e de sua contraparte La Niña, pode ajudar os cientistas no desenvolvimento de melhores metodologias de previsão do tempo.
Forma híbrida está em desenvolvimento
No mês passado foram registrados sinais atípicos de El Niño em formação no Pacífico. Os cientistas ainda não sabem dizer qual variante seria.
– Passamos toda a última semana tentando descobrir – afirmou Webster. – Está parecendo que seria um híbrido, com o aquecimento começando a oeste e se deslocando para leste, o que possivelmente indicaria um número maior de furacões no final da temporada deste ano.
Para a co-autora do estudo Judith Curry, especialista em ciências atmosféricas, “há 50% de chance de termos um Modoki surgindo dentro dos próximos meses”.
– Precisamos ver ainda como ele se comportará, mas poderemos ter um aumento da atividade de furacões – afirmou ela.
Para Greg Holland, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, o estudo tem importantes consequências para a acurácia da previsão do tempo.
(O Globo, 3/7)