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47º Informativo – Macaco-prego, flora e ciência

1 – Macaco-prego é capaz de inventar atalhos pela mata

2 – Flora no parque

3 – Mundo Microscópico: novo Laboratório de Biologia Celular agita Estação Ciência

 

1 – Macaco-prego é capaz de inventar atalhos pela mata

Planejamento espacial visto até hoje apenas em humanos e chimpanzés é descoberto em animais da floresta atlântica. Escolha de local para dormir no meio do mato dependerá de qual árvore será a melhor fonte para o café da manhã, mostra pesquisa da USP

Ricardo Mioto escreve para a “Folha de SP”:
Ao contrário de muitos humanos da cidade, os macacos-pregos não conhecem os caminhos até suas árvores favoritas apenas porque os decoram. Pesquisadoras brasileiras se enfiaram no meio da mata e descobriram que eles são capazes de inventar atalhos por dentro da floresta até o local onde tomarão café da manhã no dia seguinte.
Isso exibe um grau de planejamento espacial até agora só observado em dois primatas altamente intelectuais: humanos e chimpanzés. Mais uma habilidade especial na lista desse gênio da selva.
Os macacos-pregos (Cebus nigritus) do Parque Estadual Carlos Botelho, a cerca de 250 km ao sul de São Paulo, não perambulam a esmo pela mata, nem se prendem a rotas fixas em busca de comida.
“Você decorou um caminho. Sempre passa pela avenida Paulista. Mas se tiver que dar uma volta na Alameda Santos não consegue, não sabe”, exemplifica Mariana Fogaça, bióloga da USP (Universidade de São Paulo). Não é o caso dos macacos: se morassem na cidade e não na floresta, poderiam picotar o Jardim Paulista inteiro sem se perderem. Quem tem noção espacial consegue sair da sua trilha e ainda assim voltar.
Ainda na analogia paulistana, os animais saberiam de cor quais são os melhores restaurantes da região. As cientistas descobriram que eles se lembram das árvores onde já pegaram frutas. Quanto mais carregadas as árvores de uma região, mais eles correm até elas.
Onde comer amanhã?
As pesquisadoras, várias vezes, mediram a distância do local onde os macacos passaram a noite até a última árvore onde comeram antes de dormir. Mediram também a distância até a primeira árvore onde comeram no dia seguinte. Resultado: os bichos iam dormir perto da árvore que atacariam quando acordassem no dia seguinte. Ou seja, os macaquinhos não escolhem qualquer canto para dormir. Eles planejam as suas atividades futuras.
As pesquisadoras enxergam os resultados como um golpe no antropocentrismo. “A gente superestima a capacidade humana, achamos que ela é supercomplexa”, diz Patrícia Izar, psicóloga experimental da USP e orientadora do estudo.
Correndo atrás de macaco
Observar o comportamento de bandos de animais com menos de 1 metro de comprimento e que vivem no alto das árvores na mata atlântica não é trivial. As pesquisadoras passaram de 12 a 15 dias por mês no meio do mato, por mais de dois anos.
Maluquice? “Todo mundo acha. A família, a maioria das pessoas que você comenta faz uma cara estranha”, diz a geógrafa Andrea Presotto. Elas não desgrudam de seus objetos de estudo, nem quando eles se perdem na floresta. “A gente corre quando é para correr. Quando eles param a gente para, às vezes almoçando em pé.”
São 13 ou 14 horas por dia atrás dos macacos-pregos. Não, elas não dormem sob as árvores -há um alojamento para pesquisadores no parque. “O grande mérito do trabalho é a observação naturalística”, diz Izar. “Em laboratório os resultados são mais pobres”.
É fácil descobrir se alguém não têm boa noção espacial vendo ela se perder nas alamedas em torno da avenida Paulista, mas bem mais difícil observando o seu comportamento dentro de uma casa fechada.
Macacos piauienses
As pesquisadoras da USP querem, agora, comparar o comportamento desses macacos-pregos da mata atlântica com o dos que vivem no Piauí, onde a geografia é bem diferente: cerrado, sem tantas árvores.
“No Piauí, existem aqueles morros no meio das chapadas. No alto desses morros você tem uma visão em 360 graus. Você tem chance, então, de planejar diferente. Lá, por exemplo, eles sempre voltam para dormir no mesmo lugar. Isso não acontece na mata atlântica”, diz Izar.
Espécie tem senso de justiça e compaixão
Não é apenas a noção espacial aguçada que torna os macacos-pregos especiais. Estudos anteriores apontavam também que eles usam ferramentas, têm senso de justiça e sentem compaixão. São os únicos macacos das Américas que agem assim.
Há dois anos, um grupo de pesquisadores mostrou que os animais usam pedras como martelo e rochas e troncos como bigorna. Eles foram vistos até usando varetas para desentocar lagartos. Em outro estudo, cientistas ensinavam os bichos a trocar pedrinhas por comida.
Entretanto, quando dois macacos-pregos ofereciam pedrinhas aos pesquisadores mas era dada mais comida a um do que a outro, o prejudicado simplesmente entrava em greve. Ele saia do jogo. Para os autores do trabalho, essa foi uma demonstração de que eles, como nós, acreditam que pagamentos diferentes para trabalhos iguais é injustiça.
Um terceiro estudo oferecia aos bichos duas opções: ganhar comida só para si ou também para outro macaco-prego ao lado. Eles se mostraram solidários. Se o colega era do seu grupo (era, digamos, um “conhecido”), ocorria uma relação ainda maior de empatia.
Humanos e chimpanzés, os dois primatas considerados mais inteligentes, se separaram evolutivamente há aproximadamente 6 milhões de anos, dizem estudos. Os macacos-pregos são resultado de uma linhagem que se separou bem antes, há 40 milhões de anos. Não era de se esperar, portanto, que eles apresentassem características relacionadas à inteligência.
(Folha de SP, 7/6)

 

2 – Flora no parque

 

Exposição Flora Brasiliensis, com reproduções de ilustrações da obra do naturalista alemão Carl von Martius após viagem pelo Brasil no século 19, é destaque no Parque Villa-Lobos, na capital paulista

Thiago Romero escreve para a “Agência Fapesp”:
Uma exposição sobre a Flora Brasiliensis, considerado o mais completo levantamento da diversidade vegetal brasileira, acaba de ser inaugurada no Espaço Vida do Parque Villa-Lobos, na capital paulista, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho após recomendação da Conferência de Estocolmo, em 1972, na Suécia.
A mostra é formada por 14 pranchas em formato de pôsteres com reproduções de ilustrações da obra enciclopédica organizada pelo naturalista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e informações sobre a sua viagem pelo Brasil.
Os painéis, cedidos pela Fapesp, fazem parte da exposição Flora Brasiliensis On-line, produzida pela Fundação quando da disponibilização da obra de Martius na internet.
Aberta para visitação gratuita aos visitantes do parque, a exposição é uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Instituto Unibanco e Instituto Samuel Murgel Branco (ISMB), responsável pela gestão do Espaço Vida do Parque Villa-Lobos.
Na Flora Brasiliensis original estão descritas 22.767 espécies, que representam o conjunto das plantas conhecidas até meados do século 19. Na obra também estão 3.811 ilustrações de plantas, flores, frutos e sementes.
Ainda que a estimativa da diversidade de plantas brasileiras seja de 50 mil espécies, a Flora Brasiliensis é considerada o mais abrangente levantamento da flora do país, sendo utilizada na identificação de plantas e como referência para estudos em botânica do Brasil e de outros países da América do Sul.
“O empenho dos programas e projetos apoiados pela Fapesp em buscar dados sobre a diversidade brasileira de flora e fauna, depositados em museus e centros de pesquisas renomados no exterior, confere valor indiscutível à história sobre o patrimônio genético nacional, além de fornecer mais subsídios para as pesquisas em botânica no Brasil e educar a população sobre a nossa imensa biodiversidade. Esse é o caso do belíssimo trabalho realizado com a Flora Brasiliensis”, disse Rosana Filomena Vazoller, presidente do ISMB.
A obra, que levou mais de meio século para ser concluída, foi produzida por Martius em colaboração com os cientistas alemães August Wilhelm Eichler (1838-1887), Ignatz Urban (1849-1931) e outros 65 especialistas de vários países.
Segundo Rosana, um dos objetivos da exposição é estimular a população a conhecer Martius, seu trabalho e o que sua obra máxima representa para a ciência, a história e a cultura brasileiras.
“Permitir que os cidadãos possam conhecer a obra de Martius em um parque é facilitar mecanismos de popularização da ciência e comunicar o saber sobre a história da biodiversidade brasileira”, afirmou Rosana, que integra o conselho científico do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) e foi professora da Universidade de São Paulo (USP) por duas décadas, na Escola de Engenharia de São Carlos e no Instituto de Ciências Biomédicas.
História da biodiversidade
“Mais do que as descrições de Martius, que jogaram luz sobre a imensa diversidade da flora nacional em uma determinada época, a exposição mostra que a biodiversidade brasileira tem história. O Brasil teve, desde a época do Império, governantes que investiram no conhecimento da flora nacional”, disse Rosana.
Patrocinada pelo imperador da Áustria, Ferdinando I, pelo rei da Baviera, Ludovico I, e pelo imperador do Brasil, Dom Pedro II, a Flora Brasiliensis teve seu primeiro volume publicado em 1840 e o último em 1906, muitos anos após a morte de Martius, em 1868.
A expedição, que fez parte da chamada Missão Austríaca, formada por cientistas e artistas europeus interessados na rica e exuberante flora tropical, desembarcou em 15 de julho de 1817 no porto do Rio de Janeiro para acompanhar a arquiduquesa Leopoldina, que se casaria com o então príncipe D. Pedro.
No Brasil, Martius percorreu cerca de 10 mil quilômetros ao longo de três anos, registrou observações e recolheu mais de 20 mil espécies de plantas em quatro dos cinco principais ambientes naturais brasileiros – Cerrado, Caatinga e as florestas Atlântica e Amazônica.
O roteiro da viagem começou nas imediações da Corte do Rio de Janeiro, continuou em São Paulo e Minas Gerais. A expedição cruzou a Bahia, seguindo depois para Pernambuco, Piauí e Maranhão. De navio, rumou para Belém e subiu o Amazonas até o Solimões.
Do Solimões, o zoólogo Johann Baptiste von Spix (1781-1826) continuou pelo Amazonas até os limites do Peru, enquanto Martius seguiu pelo rio Japurá até a fronteira com a Colômbia. Os dois se reencontraram e continuaram a viagem pelo rio Madeira.
De volta à Europa, Martius foi nomeado curador do Jardim Botânico e professor da Universidade de Munique, na Alemanha. A viagem exploratória marcou o cientista de tal forma que, nos anos seguintes, passou a se dedicar extensivamente ao estudo da flora brasileira.
A partir de 1840, iniciou o trabalho de organização das informações e de publicação da Flora Brasiliensis. Especificamente para os estudiosos em botânica no Brasil, explica Rosana, a disponibilidade das informações da obra é “inegavelmente relevante”.
“Martius revelou informações fundamentais sobre a flora em seus ecossistemas e, com isso, os cientistas puderam, desde então, tecer comparações sobre a flora nacional e discutir as condições locais que permitiram a existência das espécies”, destacou.
Cem anos após a publicação do último volume da Flora Brasiliensis, os valiosos desenhos se tornaram mais acessíveis aos cientistas e ao público em geral por meio da internet, como resultado do projeto Flora Brasiliensis On-Line (http://florabrasiliensis.cria.org.br/), apoiado pela Fapesp, Natura Cosméticos e Vitae Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.
O trabalho de adaptação da obra para a internet foi realizado pelo Cria e pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A digitalização das imagens para o site foi feita pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos.
A versão on-line da obra possui mais de 3,8 mil pranchas digitalizadas e mais de 10 mil páginas com os textos das descrições das quase 23 mil espécies. Os desenhos podem ser consultados pelo nome científico de cada espécie, pelo volume ou pela página da obra impressa.
Mais informações sobre a Flora Brasiliensis no Parque Villa-Lobos: (11) 3021-3182.
(Agência Fapesp, 10/6)

 

3 – Mundo Microscópico: novo Laboratório de Biologia Celular agita Estação Ciência

O centro interativo ganha espaço totalmente equipado para transformar os visitantes em cientistas de verdade, mergulhando no mundo microscópico
Os visitantes da Estação Ciência, centro interativo de divulgação científica da USP, agora ganham mais uma atração especial, que complementa as demais ações de modernização e qualificação do espaço que vêm sendo desenvolvidas.
Trata-se do Laboratório de Biologia Celular, um espaço de 40 m2, equipado com microscópios e lupas, além de diversos materiais para estudo da célula, como modelos de estruturas microscópicas e telões de plasma interligados aos microscópios, permitindo demonstrações específicas dos monitores. Para os visitantes, serão emprestados jalecos brancos de laboratório, especialmente criados para o ambiente.
O novo espaço foi desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, coordenado por Mayana Zatz.
Mais do que um simples espaço físico com equipamentos e materiais biológicos, o Laboratório de Biologia Celular é uma área em que serão desenvolvidas atividades educacionais e lúdicas, facilitadoras do aprendizado do mundo microscópico.
“O ensino-aprendizagem do conceito de célula é um desafio para professores e pesquisadores envolvidos com a educação em ciências, pois incluem processos e entidades que são invisíveis a olho nu. São exemplos dessas dificuldades as confusões entre os conceitos de célula, átomo e molécula e a falta de clareza quanto à noção de tamanho de estruturas biológicas nos diversos níveis de organização”, destaca Eliana Dessen, do departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP, e coordenadora geral deste projeto junto à Estação Ciência.
Job Carvalho, coordenador de monitoria da Estação e responsável pelas atividades do laboratório, complementa: “o objetivo geral do projeto foi inserir no espaço da Estação Ciência um programa de aprendizagem sobre a célula e sua diversidade, construindo e equipando um laboratório para visualização de entidades microscópicas e disponibilizando um conjunto de atividades interessantes”.
Na parceria, o Centro de Estudos do Genoma Humano forneceu todo o equipamento óptico (microscópios e lupas com iluminação embutida), diversos protocolos de aulas práticas e os materiais necessários para a execução das preparações citológicas, material didático na forma de atividades lúdicas, facilitadoras do entendimento do conceito de célula como: jogos educacionais, modelos tridimensionais de estruturas e simulações de processos intracelulares, oficinas de capacitação para professores de ensino básico e monitores da Estação Ciência, além de parte do custeio financeiro.
A Estação Ciência providenciou o espaço físico, o projeto arquitetônico de construção do laboratório, a execução da obra, a monitoria, a manutenção dos materiais e segurança.
O Laboratório, que será oficialmente inaugurado na comemoração de aniversário – 22 anos – da Estação Ciência, em 24 de junho, depois passará a ser disponibilizado ao público no mesmo esquema das demais exposições: para grupos e escolas, basta fazer o agendamento da visita e incluir o Laboratório no roteiro.
Já para o público espontâneo, famílias e turistas, haverá sessões em diversos horários dos finais de semana. Apesar de a Estação Ciência como um todo ter classificação etária livre, para participar das atividades do Laboratório é necessário ter a partir de 11 anos. As sessões, tanto para escolas como para o público espontâneo, têm a duração de uma hora.
A Estação Ciência funciona de terça a sexta das 8h às 18h e nos finais de semana e feriados das 9h às 18h. Os ingressos custam R$ 2,00, sendo isentos menores de 6 anos e maiores de 60. No primeiro sábado e terceiro domingo de cada mês a entrada é grátis para todos. Grupos acima de 15 pessoas devem agendar previamente pelo telefone.
A Estação Ciência fica na Rua Guaicurus, 1394, Lapa, São Paulo. Informações para visitação: http://www.eciencia.usp.br e (11) 3673 7022.
(Assessoria de Comunicação da Estação Ciência)