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19º Informativo – Fósseis, Darwin e planta

1 – Fósseis achados nos EUA indicam que “Triceratops” podiam viver em grupos

2 – Livro expõe Charles Darwin em alto-relevo, resenha de Nelio Bizzo

3 – Fósseis preservados

4 – Achado crânio de criança com deficiência

5 – Planta transgênica gera substância anti-HIV

1 – Fósseis achados nos EUA indicam que “Triceratops” podiam viver em grupos

 

 

Paleontólogos encontraram três fósseis do dinossauro Triceratops juntos

Ricardo Bonalume Neto escreve para a “Folha de SP”:

Não chega a ser um rebanho, mas pela primeira vez paleontólogos encontraram três fósseis do dinossauro Triceratops juntos, indicando que esses grandes herbívoros quadrúpedes podiam viver em grupos, e não como indivíduos solitários. Outro aspecto inédito da descoberta é o fato de que os três indivíduos eram todos jovens.
Com seus três chifres – daí o nome, em latim -, o Triceratops é um dos dinos mais facilmente reconhecíveis, lembrando um rinoceronte que tomou anabolizantes.
Já foram achados mais de 50 fósseis desse animal típico do final do Período Cretáceo na América do Norte, entre 68 milhões a 65 milhões de anos atrás, mas até agora sempre de indivíduos isolados. Os novos fósseis estão descritos no “Journal of Vertebrate Palentology”.
Eles foram encontrados em 2005 na formação Hell Creek, no estado de Montana (EUA), por Helmuth Redschlag, um voluntário que ajudava nas escavações do Museum Burpee de História Natural. Redschlag é fã da série “Os Simpsons”, por isso pediu para os pesquisadores batizarem o local da descoberta de “sítio Homer”.
“A ideia de que esses Triceratops viviam juntos e morreram juntos é uma interpretação do sítio”, disse à Folha, Steve Brusatte, pesquisador do Museu Americano de História Natural.
As rochas indicam que o sítio Homer foi formado como resultado de uma inundação localizada. Mas as águas poderiam ter simplesmente arrastado ao acaso três jovens dinos.
Segundo Brusatte, há dois bons argumentos para demonstrar que os três estavam juntos: as rochas e a probabilidade.
“As rochas nos contam que a inundação não foi um grande evento que teria coletado carcaças em larga extensão do ambiente. Está claro que os três Triceratops foram enterrados aos mesmo tempo, porque estão presos em uma “represa” formada por uma tora gigante que parou os ossos.”
(Folha de SP, 29/3)

2 – Livro expõe Charles Darwin em alto-relevo, resenha de Nelio Bizzo

 

 

Obra que retrata o legado do naturalista inglês, pai da teoria da evolução, é fruto sintético de uma pesquisa em boas fontes de informação

Nelio Bizzo é professor titular da USP, fellow do Institute of Biology (Londres) e pesquisador da obra de Charles Darwin com diversos livros e artigos sobre o tema. Resenha publicada na “Folha de SP”:

Neste ano em que comemoram 150 anos da publicação de “A Origem das Espécies” há grande demanda por informações que façam frente a desencontros e versões exóticas sobre a vida e a obra de Charles Darwin (1809-1882).
Para quem quer informação objetiva, fruto sintético de uma pesquisa em boas fontes de informação, sem dúvida “Darwin”, de Marcelo Leite (Coleção Folha Explica, Publifolha), é uma das boas notícias deste ano.
Organizado originalmente em três partes, tomando por referência a famosa viagem do navio de pesquisas inglês HMS Beagle, Marcelo Leite nos fala dos antecedentes da viagem, logo após iniciar o livro lamentando os progressos dos criacionistas em nosso meio educacional. Sua introdução tem o sugestivo título “150 anos perdidos?”, o que seria trágico se fosse de fato realidade.
Mesmo sem se aprofundar no assunto, ele nos mostra que cientistas religiosos, como Theodosius Dobshansky (1900-1975), de origem russa, naturalizado americano e cristão ortodoxo, conseguiram compatibilizar suas crenças religiosas com o conhecimento científico, incluindo a teoria da evolução e o respeito aos cânones de sua religião.
Afinal, nem todo evolucionista é ateu, como Richard Dawkins, e nem todo religioso é fundamentalista, como aqueles que acreditam que as palavras da Bíblia devem ser lidas literalmente.
Marcelo Leite prepara o leitor para seguir adiante no livro dizendo que ele não irá encontrar uma refutação cabal do criacionismo, mas que o fio condutor da obra será justamente a vida de Darwin e a robustez do pensamento darwiniano.
De fato, essa polêmica inicial se esvai ao longo do livro, que traz uma leitura muito agradável, sem a agrura de termos técnicos e com a elegância da boa escrita.
As explicações latitudinárias cedem espaço a leituras meridianas de autores consagrados, como Janet Browne, uma das referências da área de estudos darwinianos acadêmicos.
Esse fio condutor, no entanto, irá explicar a inserção tangencial de Alfred Russel Wallace em dois momentos do livro, reconhecido como formulador da teoria da evolução por seleção natural simultaneamente a Darwin.
Assim, se entende a razão de a imagem de Darwin ter destacado relevo, a começar pelo próprio título do livro. Caberia lembrar o título que Wallace escolheu para a obra na qual sintetizou sua compreensão sobre a teoria da evolução, “Darwinismo”, publicado pouco depois da morte de Darwin.
Wallace não cunhou o termo, mas certamente ajudou a firmar uma expressão que dizia muito sobre a contribuição do amigo e de seu próprio reconhecimento a ela.

Os antecedentes da viagem do Beagle são narrados tendo a perspectiva pessoal como referência básica, montando um quadro psicológico de um observador atento, que faria entender o cientista minucioso e o relato “quase antropológico” dos lugares visitados. No entanto, Marcelo Leite não cai na tentação de apresentar Darwin como um sociólogo pioneiro dos trópicos, o que, de fato, ele não foi.
O método de Marcelo Leite poderia ser chamado de cauteloso, pois ele utiliza como lanterna teórica as palavras do próprio Darwin, em especial sua autobiografia, a iluminar seus escritos mais famosos, como a narrativa da viagem do Beagle e “A Origem das Espécies”.
Isso pode conferir certo tom oficial ao relato, mas traz a compensação de uma leitura sóbria e sem sobressaltos, como convém a uma obra informativa básica. Seu capítulo final é verdadeiramente emocionante, pois se revela bastante original e nos brinda com a confluência de suas leituras sociais e biológicas.
Marcelo Leite reconhece que, em um livro breve como esse, ele não pode se alongar na discussão sobre as consequências da visão darwinista para as ciências sociais e econômicas. Pena! Seus leitores certamente esperarão que seu próximo livro não demore.
(Folha de SP, 30/3)

3 – Fósseis preservados

 

 

Grupo internacional descreve sucesso em uso de método para análise de DNA de insetos fossilizados ou preservados em museus que não destrói os espécimes
Um importante problema com a análise genética de organismos fossilizados é que a extração do DNA implica a eventual destruição dos espécimes. Mas um novo estudo destaca que é possível retirar DNA antigo e conservar as valiosas peças.
Publicado na edição desta quarta-feira (1º/4) no PLoS ONE, revista eletrônica de acesso aberto, o método de extração foi aplicado em insetos fossilizados em sedimentos de gelo e pertencentes a um museu.
A novidade é baseada no processo in vitro conhecido como reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês), usado para amplificar fragmentos de DNA, de modo a obter milhares de cópias desses pedaços, facilitando a sua análise.
O novo estudo foi feito por pesquisadores da Dinamarca, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, que usaram um método descrito em 2007 por outro grupo internacional também na PLoS ONE.
Os cientistas conseguiram extrair com sucesso DNA dos macrofósseis encontrados na Sibéria, com mais de 47 mil anos, e de besouros de até 188 anos, preservados no Museu de História Natural em Copenhague. Por conta de manter os espécimes, o método tem grande potencial para pesquisas feitas com DNA antigo.
Apesar de sua enorme diversidade, os insetos são quase sempre ignorados em estudos com DNA antigo, que se baseiam principalmente em vertebrados ou plantas.
“Embora os insetos sejam o grupo animal mais diverso na Terra, com mais de 1 milhão de espécies descritas, estudos com DNA antigo tem se limitado, até agora, a espécimes de museus com menos de 100 anos”, destacaram os autores.
Um grande empecilho para o uso de insetos fossilizados nesse tipo de pesquisa genética é a natureza destrutiva dos procedimentos de extração de amostras. O problema está relacionado a diversas fontes, certamente, mas é de importância maior para os espécimes menores, como os insetos, nos quais mesmo uma amostragem limitada pode resultar na destruição de características morfológicas importantes.
O uso de espécies históricas, mantidas em museus, tem importantes aplicações em estudos genéticos de populações, uma vez que podem revelar antigas estruturas genéticas. Macrofósseis de insetos oferecem a oportunidade de estudar climas e ecossistemas de milhares de anos atrás.
O artigo Non-destructive sampling of ancient insect DNA, de Philip Francis Thomsen e outros, pode ser lido em http://www.plosone.org.
(Agência Fapesp, 1/4)

4 – Achado crânio de criança com deficiência

Peça de 530 mil anos negaria eliminação de prole com defeito congênito

Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”:

O crânio de uma criança que viveu há 530 mil anos pode ser a primeira evidência de que os humanos ancestrais não eliminavam sua prole quando ela nascia com defeitos congênitos. O fóssil apresenta traços claros de uma doença rara chamada craniossinostose, causada pelo fechamento prematuro das suturas ósseas que envolvem o cérebro. Além da deformidade, a patologia pode causar danos psicomotores.
O achado – batizado de Crânio 14 – ocorreu no norte da Espanha, no sítio arqueológico de Sima de los Huesos, em Atapuerca. A criança pertencia a um grupo de Homo heidelbergensis – antepassados diretos dos neandertais – e tinha entre 5 e 12 anos. Não se sabe se era menino ou menina.
“O crânio apresentava depressões muito desenvolvidas, o que oferece indícios de pressão intracraniana elevada”, afirma Ana Gracia, do Centro de Evolução Humana e Comportamento da Universidade Complutense de Madri e do Instituto de Saúde Carlos III. Principal autora do artigo publicado hoje na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Ana considera possível que a criança tenha sofrido lesões no encéfalo. “E, se sofreu algum tipo de dano cognitivo ou motor, deve ter recebido cuidados especiais (dos outros membros do grupo)”, aponta a pesquisadora.
Os cientistas opinam que a craniossinostose foi consequência de algum trauma sofrido pelo feto durante o terceiro mês de gestação, embora não se descarte uma causa genética.
Nos humanos ancestrais e atuais, a união dos ossos do crânio só ocorre quando o cérebro já alcançou seu tamanho definitivo.
Atualmente, a incidência dessa patologia é de até 6 casos para cada 200 mil nascimentos no mundo.
Próximos Passos
O sítio arqueológico de Sima de los Huesos foi descoberto em 1976 e contém as ossadas de, no mínimo, 28 indivíduos da espécie H. heidelbergensis, de ambos os sexos e distintas idades.
Ana afirma que pretende continuar estudando o Crânio 14 e o sítio em busca de novas patologias que ofereçam pistas sobre o comportamento dos hominídeos antigos.
(O Estado de SP, 31/3)

5 – Planta transgênica gera substância anti-HIV

 

 

Estudo publicado hoje na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) utilizou 9.300 pés de tabaco selvagem (Nicotiana benthamiana)

Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”:

Plantas transgênicas são capazes de produzir em larga escala uma substância que poderá ser usada como princípio de um gel microbicida anti-HIV. O produto serviria como método feminino de prevenção contra aids.
O estudo publicado hoje na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) utilizou 9.300 pés de tabaco selvagem (Nicotiana benthamiana) para produzir 60 gramas da proteína griffithsina (GRFT). Em 2005, pesquisadores isolaram a substância e comprovaram que ela se liga à cápsula do HIV, impedindo que o vírus infecte as células imunológicas do hospedeiro.

A proteína foi descoberta em algas vermelhas do gênero Griffithsia. Para produzi-la em laboratório, os cientistas modificaram geneticamente a bactéria Escherichia coli, transformando-a em uma pequena fábrica do microbicida. Em pouco tempo, perceberam que o método era caro e pouco eficiente. Seria inviável usar a técnica em uma linha de produção do gel.
Na pesquisa publicada hoje na PNAS, as bactérias foram substituídas por plantas. Cientistas americanos inseriram o gene que produz a GRFT no vírus do mosaico do fumo. Depois, inocularam o micro-organismo nos vegetais. Infectados, começaram a produzir a substância em grande quantidade, viabilizando a produção industrial do biofármaco.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Elibio Leopoldo Rech Filho, da divisão de Recursos Genéticos e Biotecnologia, conhece o trabalho dos americanos. “Pesquisas assim são muito importantes, principalmente para a África”, afirma Rech. “É um método econômico e eficaz para combater a epidemia: o vírus tem dificuldade para adquirir resistência a essa substância.”
(O Estado de SP, 31/3)