1 – Mudança de endereço eletrônico e de e-mails do CRBio-04
2 – Revitalização do Símbolo do Biólogo
3 – Pós-Graduação em Gestão da Saúde Ambiental
4 – Concurso Público Secretaria de Saúde de Tocantins (14 vagas para Biólogos)
5 – Concurso Público da Agência Nacional das Águas – ANA (100 vagas para Especialista em Recursos Hídricos)
6 – Vaga para Biólogo em Viçosa (MG)
7 – II Simpósio Brasileiro de Genética Molecular de Planta
8 – Curso de especialização/extensão em Plantas Medicinais e Fitoterapia
9 – ONU declara que 2009 será o Ano do Gorila
10 – Longevidade é resultado de falha celular
11 – Biólogos decifram canção de amor do mosquito da dengue
12 – Seleção genética anticâncer
13 – DNA indica melhor droga para cada paciente
14 – Célula-tronco cura hemofilia em roedor
15 – Ação humana sobre as florestas tropicais tem o impacto de tsunami
16 – Um metro a mais
17 – Dinossauro chinês carrega penas mais primitivas do mundo, diz estudo
18 – ‘Interruptor’ alterna lembrar e aprender
19 – Três antídotos contra a zoofobia, artigo de Felipe A. P. L. Costa
20 – Ligação com o passado
21 – ABL lança dicionário e põe fim a dúvidas do Acordo
22 – Mecanismo cerebral promove adesão à opinião dominante
1 – Mudança de endereço eletrônico e de e-mails do CRBio-04
Em cumprimento a determinação da portaria do MPOG, que visa padronizar os endereços eletrônicos de todos os conselhos de biologia do Brasil, foi alterado o endereço do site do CRBio-04. Anteriormente o site era hospedado em www.crbio4.org.br , agora o endereço é acrescido do número zero e a sigla ‘org’ some, para dar lugar a ‘gov’. O site agora será hospedado no endereço www.crbio04.gov.br . Os e-mails do conselho também foram alterados: crbio04@crbio04.gov.br , secretaria@crbio04.gov.br , comunicacao@crbio04.gov.br etc. Temporariamente o antigo site www.crbio4.org.br continuará funcionando normalmente, mas logo ele será desativado. O Conselho Regional de Biologia- 4ª Região pede encarecidamente para os Biólogos atualizarem essas informações e evitarem entrar no endereço antigo, assim como também não enviarem mais e-mails para a terminação @crbio4.org.br . Para facilitar a memorização do novo site, atualize ou adicione o endereço eletrônico www.crbio04.gov.br no ‘favoritos’.
2 – Revitalização do Símbolo do Biólogo
Em 2009 comemora-se 30 anos da regulamentação da profissão de Biólogo. Uma das atividades programadas para comemorar essa data é a revitalização do Símbolo da profissão. Sem perder a essência que faz da logo do CFBio uma marca tão forte e presente entre o Biólogo, sua revitalização pode ser percebida como uma agregação de valores. O símbolo traduz conceitos que envolvem o cotidiano do Biólogo e também a importância da vida para esses profissionais. Para visualizar o símbolo revitalizado e conhecer a explicação detalhada sobre as formas e as cores presentes nele, acesse o site do CRBio-04 (www.crbio04.gov.br) ou o blog Biologia na Rede (www.bionarede.blogspot.com).
3 – Pós-Graduação em Gestão da Saúde Ambiental
A Unipac Betim (www.unipacbetim.com.br) está com inscrições abertas para a especialização em Gestão da Saúde Ambiental. O curso tem o objetivo de: apresentar as relações diretas e indiretas entre saúde e meio ambiente; capacitar docentes, pesquisadores e gestores em saúde e ambiente numa perspectiva interdisciplinar; apresentar técnicas de elaboração de estudos de impacto ambiental; analisar a importância de princípios e práticas do planejamento ambiental. As aulas terao início no dia 03 de fevereiro de 2009 (terça-feira) e as incrições podem ser feitas na secretaria da UNIPAC Betim até o dia 30 de janeiro de 2009 (sexta-feira). Maiores informações pelo telefone (31) 3544-1919, pelo e-mail unipacmarketing@unipacbetim.com.br e pelo site da Unipac Betim.
4 – Concurso Público Secretaria de Saúde de Tocantins (14 vagas para Biólogos)
A Secretaria de Saúde de Tocantins – SESAU/TO abriu as inscrições para concurso público destinado ao provimento de cargos do quadro dos profissionais de saúde do estado. As inscrições serão realizadas exclusivamente via internet, no site do concurso http://sesau.unitins.br , entre os dias 13 de janeiro de 2009 a 22 de j aneiro de 2009. As vagas para Biólogos são destinados a cidade de Palmas (TO) e possuem remuneração de R$2.181,60. Para maiores informações, acesse o edital do concurso no link: http://concursos.unitins.br/concursos/download/arquivos/[633651125606446250]Edital_001_2008.pdf .
5 – Concurso Público da Agência Nacional das Águas – ANA (100 vagas para Especialista em Recursos Hídricos)
O Concurso Público da Agência Nacional das Águas – ANA teve suas inscrições prorrogadas até o dia 12 de janeiro de 2009 (segunda-feira). As 100 v agas são para o cargo de Especialista em Recursos Hídricos (remuneração de R$8.389,60 – vencimento total). As provas serão aplicadas em todas as capitais brasileiras, na data provável de 1º de março de 2009. As inscrições devem ser feitas no endereço eletrônico www.esaf.fazenda.gov.br , mediante o pagamento da taxa de inscrição, no valor de R$100,00, por meio de boleto eletrônico, pagável em toda a rede bancária. O requisito necessário para a vaga é diploma de conclusão de curso de graduação (nível superior). Para ter acesso ao edital do concurso, acesse o link: http://www.esaf.fazenda.gov.br/concursos/concursos_selecoes/ANA-2008-2009/Edi tais/Edital%20de%20abertura-96-2008.pdf .
6 – Vaga para Biólogo em Viçosa (MG)
A AgroGenética (www.agrogenetica.com.br) está selecionando um Biólogo, com nível de doutorado, formação em Biologia Molecular, Genética ou áreas afins e com experiência em: PCR; PCR em tempo real; validação de ensaios moleculares; marcadores moleculares – microsatélites; métodos estatísticos e ferramentas de análise e interpretação de resultados para identificação de marcadores para discriminação de pureza genética. O Biólogo terá as seguintes atividades: desenvolviment o e padronização de reações de PCR em Tempo Real para detecção de OGM e identificação e validação de marcadores microsatélites polimórficos. Os interessados deverão enviar currículo para o e-mail wmarota@agrogenetica.com.br até o dia 16 de janeiro de 2009 (sexta-feira). Os selecionados serão contemplados com bolsa recém-doutor, de acordo com a formação, pelo prazo de 1 ano, podendo ser renovada pelo mesmo período.
7 – II Simpósio Brasileiro de Genética Molecular de Plantas
De 31 de março a 03 de abril de 2009, irá acontecer em Búzios (RJ) o II Simpósio Brasileiro de Genética Molecular de Plantas. O objetivo do evento é reunir cientistas que estudam tó picos de várias e distintas áreas da genética molecular de plantas. O encontro pretende encorajar interações entre cientistas de diferentes campos de pesquisa, promover a troca e discussão científica e estabelecer colaborações. O envio de resumos e as inscrições com descontos tiveram seus prazos prorrogados até o dia 20 de janeiro de 2009 (terça-feira). Maiores informações pelo e-mail marco@sbg.org.br e pelo site oficial do evento: http://www.sbg.org.br/Eventos/IISBGMP/index.html .
8 – Curso de especialização/extensão em Plantas Medicinais e Fitoterapia
A Universidade Federal de Viçosa irá promover em Belo Horizonte o Curso de Pla ntas Medicinais e Fitoterapia. A especialização tem como objetivo o estudo de metodologias de cultivo, colheita, secagem, armazenamento e controle de qualidade, dispensação e prescrição de plantas medicinais e fitoterápicos. O curso terá 120 horas, será ministrado no Hotel BH Palace (Av. Augusto de Lima, 1147 – Barro Preto, Belo Horizonte – MG), terá o valor total de R$850,00. A especialização acontecerá aos sábados e começará no dia 14 de fevereiro de 2009. Os interessados deverão enviar a ficha de inscrição (http://www.crbio04.gov.br/images/stories/anexos/fichaplantas.doc) para os e-mails rosanagrd@hotmail.com e plantasmed2008@yahoo.com.br . Maiores informações pelo e-mail vwcasali@ufv.br ou pelos telefones (31) 3559-1719/ 3899-1131.
9 – ONU declara que 2009 será o Ano do Gorila
A Convenção de Espécies Migratórias (CMS, sigla em inglês), entidade de preservação animal ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) e sediada na Alemanha, informou que 2009 será o Ano do Gorila, espécie seriamente ameaçada de extinção. O motivo, segundo a CMS, que opera com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), é o sério risco da espécie: três das quatro subespécies de gorilas estão ameaçadas de extinção e fazem parte da lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), classificadas como “criticamente em perigo”. O site oficial do Ano do Gorila já est á no ar (http://www.yog2009.org/) e disponibiliza as descrições dos órgãos que participam do projeto e um texto sobre os gorilas e suas semelhanças com o homem, tal como capacidade de expressar alegria e angústia, além de habilidades em usar ferramentas básicas.
10 – Longevidade é resultado de falha celular, afirma estudo
Cientistas americanos descobriram dois processos vinculados ao envelhecimento de ratos que revelam que a degeneração celular é deliberada, e não uma falha gradual, afirma estudo divulgado ontem pela revista Cell.
“Existe um processo genético para que ocorra o envelhecimento”, explicou Howard Chang, professor de dermatologia e membro do Centro Oncológico da Universidade de Stanford, na Califórnia. “É possível que nos indivíduos que vivem mais de 100 anos haja uma versão menos eficiente desse processo”, acrescentou. No outro extremo, em crianças com progeria (doença que provoca dramático envelhecimento precoce) os componentes do processo são muito mais ativos.
Os pesquisadores analisaram duas proteínas. Uma é a molécula SIRT6, da família de proteínas sirtuínas. Essa molécula está envolvida na estabilidade genômica e na proteção dos extremos dos cromossomos, chamados telômeros. Os cientistas descobriram que os ratos que não têm a SIRT6 nascem normalmente, mas morrem com poucas semanas por causa de uma rápida e múltipla degeneração orgânica similar à do envelhecimento.
A outra é a proteína NF-kappa B (ou NF-kb), que regula a expressão de muitos genes, entre os quais os envolvidos no envelhecimento. A expressão de muitos desses genes aumenta com a idade. Quando se bloqueia a atividade da NF-kb nas células dérmicas de ratos idosos, elas funcionam como se as unidades biológicas fossem mais jovens.
Leucemia
Outro estudo divulgado ontem concluiu que uma anormalidade genética aumenta o risco de recaída entre crianças com a forma mais comum de câncer infantil, a leucemia linfoide aguda. Quando há alterações no gene IKZF1 (que cumpre importante papel no desenvolvimento de linfócitos), o risco de recaída é triplicado na comparação com pacientes sem a anormalidade.
O estudo, publicado no New England Journal of Medicine, pode levar a mudanças no tratamento-padrão, que tem um índice de 80% de cura. Cerca de um quarto dos pacientes sofre recaída; 30% do grupo só sobrevive por mais cinco anos.
Inicialmente, a descoberta abre caminho para o desenvolvimento de um teste genético que identifique os pequenos pacientes com maiores probabilidades de reaparecimento da doença, explicou James Downing, da St. Jude Children’s Research Hospital em Memphis, Tennessee, um dos especialistas envolvidos na pesquisa. Identificadas, essas crianças podem receber tratamento mais agressivo, como a intensificação da quimioterapia.
(Efe e Reuters)
(O Estado de SP, 9/1)
11 – Biólogos decifram canção de amor do mosquito da dengue
Descoberta pode ser aplicada no desenvolvimento de técnicas para controle de pragas
Ricardo Bonalume Neto escreve para a “Folha de SP”:
O que para humanos é um zumbido irritante, para mosquitos é uma canção de amor. Pesquisadores nos EUA descobriram que, antes do sexo, um casal de mosquitos Aedes aegypti -transmissores da dengue- ajusta o batimento das asas para produzir um zumbido na mesma frequência sonora.
Os biólogos descobriram que, quando sozinha, a fêmea “zumbe” batendo asas na frequência de cerca de 400 Hz (hertz, ou vibrações por segundo) e o macho voa a 600 Hz. Aproximadamente, é como se fosse uma nota sol e outra ré, na região central do piano. Mosquitos se amando, porém, são mais irritantes, pois macho e fêmea adotam uma frequência mais aguda -um “harmônico”, como é conhecido entre os músicos. E o dueto do casal é “cantado” a 1.200 Hz, a próxima nota ré à direita, seguindo a escala do piano.
“A sinalização acústica evoluiu muitas vezes entre insetos, como gafanhotos, grilos e muitos outros como um modo de facilitar o acasalamento. Em muitos insetos, a função de sinalização deriva do bater das asas, adaptada secundariamente para isso”, diz o líder da pesquisa, Ronald Hoy, da Universidade Cornell, de Ithaca, Nova York. “Na nossa hipótese, a convergência harmônica é o resultado da seleção sexual darwinista.”
“O segredo é que a interação não se dá na frequência fundamental, mas em harmônicos mais altos, e em frequências que se achava estarem além da sensibilidade dos mosquitos”, diz Hoy.
Outra bióloga, Lauren Castor, montou o experimento. “Primeiro, eu fazia os mosquitos ficarem lentos esfriando-os com gelo, e então usava Superbonder para colar o mosquito na parte rombuda de um alfinete de inseto”, contou. “Depois de colados, eles eram colocados em um micromanipulador, que eu usava para mover os mosquitos dentro e fora dos seus campos auditivos [distância a que conseguem se ouvir].”
Os cientistas descobriram que os mosquitos ouvem sons de até 2.000 Hz, bem mais do que se imaginava. Para isso, espetaram eletrodos com apenas um micrômetro de diâmetro na base das antenas do animal para medir impulsos nervosos.
A descoberta pode ser aplicada agora no desenvolvimento de técnicas para controle de pragas. Um método comum é o lançamento de machos estéreis que copulam com as fêmeas e impedem que sejam fecundadas pelos machos naturais e férteis. Sabendo as frequências dos zumbidos, é possível criar um teste de aptidão para esses machos, pois o batimento das asas na frequência certa indicaria que eles podem atrair fêmeas.
(Folha de SP, 9/1)
12 – Seleção genética anticâncer
Técnica que gerou bebê sem o gene do tumor de mama já é testada no Brasil
Antônio Marinho escreve para “O Globo”:
O nascimento, pela primeira vez, de uma menina britânica sem o gene que aumenta em 80% a chance de ter câncer de mama abre caminho para a geração de bebês livres dessa doença e outros tumores hereditários. No Brasil já há testes em andamento para seleção de embriões sem a predisposição a cânceres raros. O diagnóstico pré-implante de embriões é autorizado em alguns países, entre eles o Brasil, para alterações como fibrose cística e outras síndromes.
Há cinco anos o gene BRCA-1, um dos responsáveis por câncer de mama e ovários, é conhecido. A pré-seleção do embrião sem a mutação foi realizada na unidade de fecundação assistida do hospital da University College, em Londres.
O pai do bebê é portador do gene e três gerações de mulheres de sua família, incluindo sua avó, mãe, irmã e uma prima foram diagnosticadas com o tumor. Em junho passado, o casal recorreu à técnica.
– Esta menina não deverá enfrentar a ameaça dessa forma genética de câncer de mama ou de ovários quando adulta – afirmou em comunicado Paul Serhal, diretor da unidade. – Os pais evitaram o risco de transmitir a doença à sua filha. A herança que deixarão será ter eliminado a transmissão dessa forma de câncer que devastou suas famílias durante gerações.
O diagnóstico pré-implante (DPI) consiste em extrair uma célula do embrião de três dias e analisá-la para saber se há alterações genéticas capazes de predispor problemas como fibrose cística ou doença de Huntington (mal neurodegenerativo).
Nesses casos, ele é descartado em benefício de outro embrião sem a alteração. Na Europa, o DPI é proibido na Alemanha, Áustria, Itália e Suíça. Porém é autorizado na Bélgica, Dinamarca, Espanha e Grã-Bretanha.
Na França permite-se apenas para detectar doenças genéticas incuráveis, como as que degeneram os músculos. Há 3 anos, o Reino Unido ampliou a possibilidade de DPI para o BRCA-1
Dois casos em andamento no país
A cientista Denilce Ritsuko Sumita, da Genomic Engenharia Molecular e PhD em genética pela USP, explica que o diagnóstico pré-implante é o mesmo, o que muda é a doença genética, com sua mutação específica. Além de mama, a técnica está sendo estudada para eliminar a predisposição a cânceres como polipose adenomatosa (tumor colo-retal), síndrome de von HippelLindau (VHL, que produz tumores em várias partes do corpo), retinoblastoma (na retina), síndrome de Li-Fraumeni (tumores múltiplos), neurofibromatose (do tecido nervoso) e tumor de fossa cerebral posterior.
Na Genomic (SP) houve dois casos de doença de von Hippel-Lindau (VHL) que não resultaram em gravidez. Há um caso de VHL e de Li-Fraumeni em andamento.
– No Brasil a demanda ainda é baixa. Realizamos 8 casos distintos de diagnóstico pré-implante no período de três anos. Como a técnica exige a padronização específica de protocolos de laboratório para cada mutação genética, o custo do exame ainda é muito alto. Além disso, o casal tem que, obrigatoriamente, passar por um ciclo de fertilização assistida, mesmo que não tenha problemas para engravidar.
Agora a menina britânica terá as mesmas chances de desenvolver câncer de mama que outra nascida naturalmente sem o gene.
– Com a técnica é possível evitar o câncer de mama em famílias com história da doença. Para qualquer câncer cujo gene foi identificado pode-se pensar em aplicar a técnica – diz Lygia V. Pereira, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, do Instituto de Biociências (da USP).
A questão ética relacionada à técnica preocupa.
– É preciso discutir os limites. Não é o caso da seleção de embrião sem o gene para o câncer. Mas alguém pode pensar em selecionar embriões para ter Q.I. alto e outras características. Além disso, a fertilização in vitro tem baixo índice de sucesso, de 20% a 30%. Com a seleção para evitar doenças fica ainda mais difícil – diz Lygia.
Grupos contrários ao aborto afirmam que é moralmente errado selecionar bebês imperfeitos.
– Eu tinha que fazer. Se a minha filha nascesse com o gene e tivesse câncer eu não conseguiria olhar no rostinho dela sabendo que não tentei – disse a mãe do bebê. (Com agências internacionais)
(O Globo, 13/1)
13 – DNA indica melhor droga para cada paciente
Era dos tratamentos “tamanho único” pode chegar ao fim
Andrew Pollack escreve para o “New York Times”:
Durante mais de dois anos, Jody Uslan tomou o medicamento tamoxifeno na esperança de evitar a reincidência de um câncer de mama. Até que um novo exame sugeriu que, por causa da sua composição genética, a droga não lhe fazia nada bem.
“Eu estava devastada”, disse Uslan, 52, que parou de tomar tamoxifeno e agora avalia tratamentos alternativos. “Você descobre que tomou esse medicamento por todo esse tempo e que não tinha benefício algum.”
A situação dela é bastante comum -e não só entre centenas de milhares de usuárias de tamoxifeno nos EUA.
Especialistas dizem que a maioria das drogas, para qualquer doença, só funciona em cerca de metade dos pacientes. Isso significa um desperdício de aproximadamente US$ 300 bilhões por ano em remédios nos EUA, além de inúmeros pacientes sendo expostos a efeitos colaterais desnecessários.
É natural, portanto, que se depositem tantas esperanças na chamada “medicina personalizada”, em que um rastreamento genético e outros exames auxiliam os médicos a determinar um tratamento sob medida -ou seja, qual droga é melhor para cada paciente-, em vez de continuar tratando todos de forma igual, na esperança de beneficiar uns poucos felizardos.
Os medicamentos Erbitux e Vectibix, contra câncer do cólon, por exemplo, não funcionam em cerca de 40% dos pacientes cujos tumores têm uma mutação genética específica. A FDA (órgão dos EUA que regulamenta drogas e alimentos) realizou recentemente uma reunião para discutir a conveniência de examinar os pacientes de modo a restringir o uso dessas drogas, cujo custo é de US$ 8.000 a US$ 10 mil por mês.
Um exame genético poderia, também, ajudar os médicos a determinarem a melhor dose de warfarina, um anticoagulante usado por milhões de americanos. Dezenas de milhares deles são hospitalizados todos os anos por causa de hemorragias internas provocadas por superdosagens ou por coágulos após doses insuficientes.
“Se você poupar uma internação para cada cem novos usuários de warfarina, você mais do que compensa o custo de testar todos os cem”, disse Robert Epstein, executivo-médico-chefe da Medco Health Solutions, que administra planos empresariais de assistência farmacêutica. Esse exame custa entre US$ 100 e US$ 600.
Apesar de todo esse potencial, os especialistas veem alguns obstáculos formidáveis no caminho da terra prometida da medicina personalizada.
“Vai levar 20 a 30 anos para que tudo isso fique claro”, disse Gregory Downing, que comanda os programas de incentivo à saúde personalizada no Departamento de Saúde dos EUA.
Os obstáculos incluem os laboratórios farmacêuticos, que podem relutar em desenvolver ou estimular exames que afinal limitariam o uso das suas drogas. Os planos de saúde podem não bancar os exames, cujo custo pode chegar a milhares de dólares. Para os fabricantes dos testes, que apostam num grande crescimento do setor, o principal empecilho pode ser provar que seus produtos são precisos e úteis.
Ao passo que é possível submeter as drogas a testes clínicos antes de comercializá-las, não há um processo geralmente reconhecido para a avaliação dos exames genéticos, muitos dos quais podem ser vendidos pelos laboratórios sem a aprovação da FDA.
A Genentech, que desenvolve drogas contra o câncer, solicitou recentemente à FDA que regulamente esses testes. O laboratório apontou “riscos à segurança dos pacientes, já que mais decisões sobre o tratamento se baseiam total ou parcialmente em afirmações feitas pelos fabricantes de tais testes”.
Apesar de todos os obstáculos, a medicina personalizada virá. Mesmo os laboratórios, que temem a redução nas suas vendas, estão começando a perceber que seus remédios podem não ser aprovados ou comprados se não houver mais evidências de que funcionam de fato.
No ano passado, por exemplo, as autoridades europeias disseram que o Vectibix, do laboratório Amgen, não fornecia aos pacientes benefícios que justificassem sua aprovação. Então a Amgen reanalisou os dados do seu teste clínico. Como os resultados mostravam que o Vectibix funcionava melhor em pacientes cujos tumores de cólon não tinham uma mutação num gene chamado Kras, a droga foi aprovada apenas para esses pacientes.
(Folha de SP, 12/1)
14 – Célula-tronco cura hemofilia em roedor
Com o tratamento, realizado por pesquisadores dos EUA, camundongos pararam de sangrar depois de serem feridos. Experimento usou técnica que manipula proteínas de tecido adulto para produzir célula com potencial similar ao das tiradas de embriões
O uso de células-tronco adultas pode ser a chave para um novo tratamento da hemofilia tipo A, segundo pesquisadores dos Estados Unidos. Essa doença hereditária provoca distúrbios na coagulação do sangue e atinge entre um e dois indivíduos em cada 10 mil pessoas.
Num estudo publicado na revista científica “PNAS” (www.pnas.org), cientistas mostram que conseguiram criar células-tronco reprogramadas que permitiam aos camundongos hemofílicos produzir as proteínas que lhes faltavam. Isso possibilitou que os animais parassem de sangrar após serem feridos.
Os pesquisadores, liderados por Yupo Ma, do Instituto do Câncer de Nevada (EUA), usaram células da pele humana (fibroblastos) e as reprogramaram para se tornarem capazes de produzir a proteína Fator VIII, crucial para a coagulação. Em seguida, injetaram as células alteradas no fígado dos animais hemofílicos.
Sete dias depois, os camundongos tratados já produziam a proteína em quantidade suficiente para parar uma hemorragia quando suas caudas eram feridas. Já os camundongos que não receberam o tratamento, mas foram feridos, morreram após algumas horas.
Os roedores que passaram pela terapia produziram apenas cerca de 16% da quantidade de Fator VIII, se comparados com camundongos saudáveis. Porém, isso parece ter sido suficiente para prevenir a hemorragia e inverter o principal sintoma de hemofilia A.
Os autores da pesquisa ressaltam que não observaram a formação de tumores nem de outros problemas patológicos induzidos, até o momento. Porém, afirmam que é necessário acompanhar a vida desses roedores para verificar se a terapia terá efeitos adversos.
O trabalho fez uso da técnica do cientista japonês Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, que criou as chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, em inglês) a partir de células adultas.
O feito tinha sido obtido pela primeira vez em meados de 2006, com células de camundongo. Em 2008, dois grupos independentes de cientistas divulgaram ter conseguido fazer com que células humanas adultas da pele passassem a agir como se fossem as versáteis células-tronco embrionárias.
Esse tipo de terapia experimental tem ganhado espaço não só por sua eficácia, mas também por evitar o controverso -e burocrático- uso de embriões para pesquisa. Muitos grupos religiosos qualificam como aborto a prática de destruir embriões excedentes de clínicas de fertilização para extrair células-tronco.
Se as iPS um dia poderem ser usadas em humanos, terão ainda uma terceira vantagem. Como elas podem ser derivadas de células adultas do próprio paciente, isso minimiza os efeitos colaterais relacionados à rejeição imunológica. Segundo o estudo, esse tipo de terapia de pode também ser útil em outros tipos de doenças genéticas.
Tentativas anteriores de terapia genética para tratar a hemofilia falharam por uma série de razões, incluindo a rejeição pelo sistema imunológico.
(Folha de SP, 13/1)
15 – Ação humana sobre as florestas tropicais tem o impacto de tsunami
Metade da cobertura vegetal foi perdida e recuperação não é suficiente
O impacto da ação humana sobre as florestas tropicais já causou estragos semelhantes ao de uma tsunami. O alerta faz parte de um estudo feito por um grupo de cientistas, que participou de um simpósio sobre as ameaças a esses ecossistemas, realizado ontem nos Estados Unidos.
De acordo com o biólogo Gregory Asner, do Departamento de Ecologia do Instituto Carnegie, de Washington, um dos autores do trabalho, serão precisos novos e sofisticados mecanismos para monitorar as mudanças ocorridas nas florestas, ameaçadas pelo desmatamento e pelo corte seletivo que, segundo ele, não estaria sendo tratado como uma alternativa ao desmatamento.
No trabalho, Asner e equipe reuniram uma série de dados, a partir de imagens de satélite e outras conseguidas com o Google Earth. Eles mostraram que 1,4% das florestas tropicais úmidas do planeta foi desmatado entre 2000 e 2005, e que metade das florestas perdeu 50% de suas árvores somente em 2005.
– O corte seletivo é mais difícil de reconhecer e medir do que o desmatamento geral – explica Asner. – Mesmo assim, avaliamos que 28% das florestas tropicais úmidas estão sofrendo algum tipo de devastação.
Quatro milhões de metros quadrados desmatados
De acordo com Asner, os impactos do corte seletivo são menos “dramáticos” do que aqueles causados pelo desmatamento geral.
– Mesmo assim, eles são capazes de alterar a estrutura da floresta – assegura Asner, que, em um outro trabalho, publicado em 2006, mostrou que 32,7% das terras amazônicas que sofrem extração das árvores de interesse comercial acabam completamente devastadas em quatro anos. Mas nem tudo é devastação.
Os pesquisadores descobriram também que cerca de 1,7% das florestas tropicais úmidas encontram-se em algum estágio de recuperação, a maior parte em áreas montanhosas.
O estudo comandado por Asner mostra que 350 mil metros quadrados de floresta que foram botados abaixo pelo homem estão se recuperando.
Um número ainda baixo perto dos 4,6 milhões de metros quadrados de floresta já devastados, indo da Amazônia às áreas da África e do sudeste asiático.
– Não podemos esperar que essa área recuperada tenha imediatamente a mesma diversidade do ecossistema original – explica William Laurence, do Centro de Pesquisas Tropicais do Instituto Smithsonian.
Asner ressalta que a precisão dos dados do seu estudo é limitada pela tecnologia atual, especialmente em relação a imagens mais detalhadas da cobertura vegetal. Mas, segundo ele, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas – como sensores mais apurados – para a monitoração das “tsunamis” que devem continuar a varrer as florestas tropicais de todo o mundo nas próximas décadas.
(O Globo, 13/1)
16 – Um metro a mais
Um novo estudo indica que o nível dos oceanos poderá subir cerca de 1 metro nos próximos cem anos, o que é três vezes mais do que as estimativas feitas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
Segundo o IPCC, o clima global no próximo século poderá ficar entre 2ºC e 4ºC mais quente do que o atual, mas os oceanos se aquecerão muito mais lentamente do que o ar e as grandes formações de gelo na Antártica e na Groenlândia levarão ainda mais tempo para derreter.
A principal dificuldade para se calcular a elevação futura no nível no mar está na incerteza de quão rapidamente as placas de gelo se derreterão. O resultado é que os modelos de derretimento não têm sido capazes de acompanhar as rápidas mudanças observadas nos nível do mar nos últimos anos.
Por conta disso, o novo estudo, feito por pesquisadores do Instituto Niels Bohr, na Dinamarca, em colaboração com colegas na Inglaterra e Finlândia, partiu para uma abordagem diferente.
“Em vez de fazer cálculos baseados no que se acredita que poderá acontecer com o derretimento das calotas polares, fizemos cálculos baseados no que efetivamente ocorreu no passado. Olhamos para a relação direta entre a temperatura global e o nível do mar até 2 mil anos atrás”, explicou o geofísico Aslak Grinsted, do Instituto Niels Bohr, um dos autores da pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Climate Dynamics.
A partir da análise de anéis de crescimento de árvores e do testemunho de gelo, os pesquisadores conseguiram calcular a temperatura global no passado. Além disso, nos últimos 300 anos o nível do mar tem sido registrado em diversos locais do globo. Os cientistas também se basearam em registros históricos.
Ao associarem os dois conjuntos de informações, Grinsted e colegas conseguiram estabelecer uma relação entre a temperatura e o nível do mar. Por exemplo, no século 12, durante a Idade Média, houve um momento de aquecimento no qual o nível do mar esteve cerca de 20 centímetros acima do atual. No século 18, por outro lado, houve uma pequena “era do gelo”, quando o nível dos oceanos foi cerca de 25 centímetros menor.
Assumindo que o clima no próximo século será 3ºC (valor médio) mais quente, os pesquisadores chegaram a novos modelos que estimam que os oceanos se elevarão entre 90 centímetros e 1,3 metro.
Subir tanto em tão pouco tempo implicaria que as placas de gelo se derreteriam muito mais rapidamente do que se estimava. Mas os autores do estudo ressaltam que trabalhos recentes apontaram que essa reação do gelo ao aumento de temperatura tem se mostrado mais rápida do que se acreditava há alguns anos.
Para Grinsted e colegas, estudos feitos sobre a era do gelo apontam que as placas são capazes de se derreter muito velozmente. Quando a última era do gelo terminou, há cerca de 11,7 mil anos, as placas se derreteram de modo tão rápido que o nível do mar subiu 11 milímetros por ano – o que equivale a cerca de 1 metro em 100 anos.
O artigo Reconstructing sea level from paleo and projected temperatures 200 to 2100 AD, de Aslak Grinsted e outros, pode ser lido por assinantes da Climate Dynamics em http://www.springerlink.com/content/100405
(Agência Fapesp, 13/1)
17 – Dinossauro chinês carrega penas mais primitivas do mundo, diz estudo
Estruturas são filamentos simples, diferentes das achadas até hoje. Descoberta confirma passos previstos para evolução das plumas
Reinaldo José Lopes escreve para o “G1”:
Dinossauros penosos já viraram item fácil no mercado paleontológico, mas o que acaba de ser encontrado por paleontólogos chineses ainda deve ser capaz de deixar os cientistas boquiabertos. Ou melhor, aliviados: ele carrega as penas mais primitivas já encontradas no registro fóssil, formadas por meros filamentos compridos.
E isso parece comprovar os vários estágios de evolução das penas previstos pelos cientistas, de estruturas simples às plumas sofisticadas que as aves voadoras de hoje ainda carregam.
A descoberta está descrita na edição desta semana da revista científica “PNAS” , num artigo assinado por Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências, e dois colegas. Os pesquisadores encontraram as estruturas num exemplar de Beipiaosaurus, criatura de 125 milhões de anos pertencente a um dos mais estranhos grupos entre os dinos, o dos terizinossauros. Esses bichos bípedes e grandalhões eram herbívoros cujas patas da frente tinham enormes garras parecidas com foices.
As penas estão preservadas na cabeça, no pescoço, no tronco e na cauda do animal. Até hoje, os cientistas só tinham encontrado penas formadas por múltiplos filamentos em dinossauros. No entanto, faltava a “primeira fase” do desenvolvimento dessas estruturas — era como se os bichos tivessem “pulado etapas” na formação das penas que legariam a seus descendentes, as aves.
Estudos com embriões de aves tinham previsto, no entanto, que essa primeira fase seria representada por filamentos únicos. É o que se vê no novo fóssil, cujas penas, com comprimento entre 10 e 15 mm, são relativamente grossas e duras, sendo provavelmente ocas em vida. É claro que elas não serviam para voar: os chineses especulam que sua função original pode ter sido a de demonstrações sociais, mais ou menos como as penas da cauda de um pavão atual.
Embora seja um primo relativamente próximo das aves, o Beipiaosaurus não é ancestral direto delas, já que a ave mais antiga encontrada até hoje, o Archaeopteryx, é um pouco mais “idosa”, com cerca de 140 milhões de anos.
(G1, 13/1)
18 – ‘Interruptor’ alterna lembrar e aprender
Uma região na parte frontal esquerda do cérebro ajuda a mudar rapidamente sua atividade entre o processo de lembrar e o de aprender, que não podem ser simultâneos e cuja combinação é necessária para interações sociais
A descoberta, de cientistas da Universidade de Amsterdã e da Universidade Duke, foi publicada na Public Library of Science (www.plos.org). (Efe)
(O Estado de SP, 13/1)
19 – Três antídotos contra a zoofobia, artigo de Felipe A. P. L. Costa
Submetidos a uma visão distorcida – de um lado, ‘abelhas que nos dão mel’ e de outro animais peçonhentos -, não é de estranhar que os estudantes saiam das escolas com a impressão de que o mundo natural é um lugar hostil e perigoso
Felipe A. P. L. Costa é biólogo (meiterer@hotmail.com), autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006). Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:
O ensino de zoologia nas escolas brasileiras ainda tem um acentuado viés antropocêntrico. Fixando nossa espécie no centro de todas as preocupações, costumamos dividir o reino animal em duas partes: os animais benéficos e os animais nocivos.
Submetidos a essa visão distorcida – de um lado, ‘abelhas que nos dão mel’ e ‘animais domésticos que nos dão carne, leite, lã e ovos’; de outro, parasitas, vetores de doenças e animais peçonhentos -, não é de estranhar que os estudantes saiam das escolas com a impressão de que o mundo natural é um lugar hostil e perigoso, habitado por criaturas sinistras e ameaçadoras. (Excetuando-se, claro, as regiões que foram ‘civilizadas’ pelos seres humanos.)
Ao invés de promover uma cultura científica crítica e respeitosa, o ensino de tal ‘zoologia sanitária’ tem contribuído para disseminar e cultivar entre nós um sentimento generalizado de zoofobia – uma aversão crônica aos animais selvagens e a tudo o que eles representam [Nota 1].
É possível que uma parte desse comportamento seja inata; grande parte, porém, parece ser cultural. Aranhas, insetos e lagartos estão entre os animais que mais amedrontam seres humanos, quase sempre por motivos fantasiosos e absolutamente improcedentes. Deveríamos, por isso mesmo, conhecer um pouco mais da vida desses animais. No que segue, apresento três obras voltadas para o público universitário, mas que exemplificam bem o significado da expressão ‘antídotos contra a zoofobia’.
Primeiro: Gonzaga, M. O.; Santos, A. J. & Japyassú, H. F., orgs. 2007. Ecologia e comportamento de aranhas. RJ, Interciência. xii + 400 p. (Preço: R$ 91,00.)
Esse livro é uma compilação de artigos escritos por 13 aracnólogos. Trata-se de uma obra pioneira: talvez seja o primeiro livro sobre aranhas publicado no país que fala desses animais como seres intrigantes, merecedores de atenção e cuidados, e não apenas como fonte de preocupação e problemas ou como ‘acúleos que matam’.
Em 14 capítulos, os autores discutem uma quantidade expressiva de dados e informações, muitos dos quais foram obtidos ou gerados por eles próprios. A ênfase recai sobre aspectos de auto-ecologia (e.g., forrageio, interações macho-fêmea, cuidado parental, territorialidade) e do estudo de comunidades (e.g., interações multitróficas, predação intraguilda, mimetismo). O livro é bem diagramado e ilustrado.
Cabem ainda dois comentários. Em primeiro lugar, admitindo que os temas abordados representem uma amostra balanceada do tipo de pesquisa que tem sido conduzida nos últimos anos, fica claro que necessitamos de mais estudos populacionais.
Com exceção talvez do último capítulo, que trata do uso de aranhas como agentes de controle biológico, a biologia de populações (demografia, dinâmica populacional, especiação etc.) não aparece como tema principal em nenhum capítulo. Ao que parece, essa área tem sido pouco explorada pelos estudiosos brasileiros.
Em segundo lugar, senti falta de um quadro que resumisse a classificação da ordem Araneae, o que talvez ajudasse o leitor – principalmente os leigos, como eu – a entender melhor o grau de parentesco entre as várias famílias mencionadas no livro.
De resto, embora a obra não tenha sido organizada com o propósito de funcionar como livro-texto, ela deverá daqui por diante ser consultada como leitura complementar em diversas disciplinas (e.g., comportamento animal, ecologia, zoologia de invertebrados etc.).
Segundo: Gullan, P. J. & Cranston, P. S. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia, 3ª edição. SP, Roca. xvi + 440 p. (Preço: R$ 116,00.)
Esse livro – tradução da terceira edição inglesa, publicada em 2005 – é uma agradabilíssima novidade bibliográfica, daquelas que cabe saudar com um sonoro ‘alvíssaras, até que enfim’! A obra vem preencher uma lacuna de muitos anos: desde a década de 1970, estudantes brasileiros estavam órfãos de um bom livro-texto de entomologia.
O que é impressionante, dada a importância e a onipresença dos insetos. Existem, a rigor, dois tipos de livro-texto: os compêndios taxonômicos, com ênfase na diversidade e classificação dos insetos, e os tratados biológicos, com destaque para aspectos de morfologia, fisiologia, comportamento e assim por diante.
Os autores tentaram conciliar esses dois enfoques em um único volume e, até certo ponto, eu diria que eles foram bem-sucedidos. (A abordagem taxonômica ficou um tanto aquém do necessário para alunos de graduação que precisam cursar um semestre de entomologia.) De resto, o livro é bem diagramado e muito bem ilustrado, rico em desenhos e esquemas grandes e didáticos.
Terceiro: Silva, V. N. & Araújo, A. F. B. 2008. Ecologia dos lagartos brasileiros. RJ, Technical Books. xiv + 271 p. (Preço: R$ 55,00.)
A publicação desse livro foi outro sopro de pioneirismo. Embora não seja exatamente a primeira obra publicada no país a tratar de um grupo de répteis, nunca antes uma obra tão ampla e detalhada sobre lagartos havia aparecido entre nós.
A idéia original era ambiciosa: fazer um inventário de tudo o que até então havia sido publicado sobre a ecologia de lagartos brasileiros. Os autores compilaram quase 300 trabalhos originais, bibliografia essa que serviu de base para os nove capítulos do livro.
A ênfase recai sobre aspectos de auto-ecologia (e.g., forrageio, termorregulação, seleção de hábitat, ecologia reprodutiva) e do estudo de comunidades (e.g., estruturação de guildas, similaridade limitante, empacotamento de espécies, teias alimentares). A diagramação é limpa e o livro traz um encarte final com fotos coloridas de espécies mencionadas no texto.
Cabe ainda um comentário: o capítulo que trata de ecologia de populações ocupa apenas sete páginas do livro. Ao que parece, portanto, o estudo de populações também tem sido pouco explorado pelos herpetólogos brasileiros – os próprios autores, aliás, alertam para a necessidade de estudos adicionais nessa área.
De resto, embora a obra não tenha sido organizada com o propósito de servir como livro-texto, ela deverá daqui por diante ser consultada como leitura complementar em várias disciplinas universitárias (e.g., ecologia, zoologia de vertebrados, biologia evolutiva etc.).
Nota
1. Ver artigo ‘Zoofobia’ http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id32133 (acesso em janeiro de 2009).
20 – Ligação com o passado
Pesquisadores descobrem no Rio Grande do Sul fóssil de animal com 240 milhões de anos encontrado pela primeira vez na África, reforçando teoria do supercontinente Pangeia
Murilo Alves Pereira escreve para a “Agência Fapesp”:
Um crânio de Luangwa, um animal pertencente ao grupo dos cinodontes que viveu entre os períodos Permiano e Jurássico, pode mudar a datação de terrenos na região central do Rio Grande do Sul.
O fóssil, descoberto no município de Dona Francisca por pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), é o mais completo crânio desse animal já descoberto na América do Sul. O gênero foi encontrado pela primeira vez no vale de Luangwa, Zâmbia, no continente africano, dando o nome a esses animais.
“O fóssil tem extrema importância para os estudos bioestratigráficos [datação por meio de achados fósseis], pois sugere uma revisão na idade dos terrenos da região”, disse o paleontólogo Sérgio Furtado Cabreira à “Agência Fapesp”.
O crânio particularmente bem preservado foi encontrado pelo biólogo Lúcio Roberto da Silva, da equipe de Cabreira, em um terreno datado em 235 milhões de anos. Segundo Cabreira, a descoberta pode levar a idade daquele terreno para 240 milhões a 242 milhões de anos, durante o período Triássico quando o Luangwa existiu.
Para chegar à conclusão, após a descoberta o fóssil foi comparado com a descrição de outros fragmentos cranianos descobertos nos municípios de Candelária e Vera Cruz, também no Rio Grande do Sul, e com a descrição do crânio completo de Luangwa.
“Quando vimos o crânio, notamos que ele era diferente de tudo o que já fora encontrado aqui na região. Descobrimos que era o mesmo animal descoberto na África”, disse.
Para Cabreira, a descoberta reforça a idéia da existência de um supercontinente, a Pangeia, no período Triássico e de sua posterior separação. “O fóssil é mais uma evidência de que a América e a África formavam um único continente no passado, dando força à teoria da deriva continental”, afirmou.
Após a descoberta, o fóssil foi tombado como Ulbra PVT-049 e será analisado em nível histológico (estudo dos tecidos). O crânio mede 15 centímetros. O animal em vida media aproximadamente 80 centímetros de comprimento, 60 centímetros de altura e 12 quilos. Cabreira explica que o crânio está em perfeito estado de conservação, com maxilar, mandíbulas e dentição completa.
Parente distante
Os cinodontes surgiram no fim do período Permiano (entre 299 milhões e 245 milhões de anos atrás), passaram pelo Triássico e resistiram até o Jurássico (199,6 milhões a 145,5 milhões de anos), dando origem aos mamíferos.
“Conhecer a evolução dos cinodontes é conhecer um eixo evolucionário que leva à evolução dos mamíferos”, explicou Cabreira, reconhecendo que a ciência ainda sabe pouco sobre o assunto.
“Algumas características dos mamíferos, como dentição e mastigação, foram iniciadas entre os cinodontes. Para se ter a mastigação é necessário um metabolismo mais avançado, um dos fatores mais complexos da evolução”, disse.
Segundo o cientista, esses fatores aproximam os cinodontes dos mamíferos. “Mastigar requer sistema nervoso mais complexo, musculatura maxilar, dentição desenvolvida, bochechas e língua hábil”, disse.
(Agência Fapesp, 14/1)
21 – ABL lança dicionário e põe fim a dúvidas do Acordo
Nova edição traz grafia definitiva de palavras, diz a Academia Brasileira de Letras. As principais indefinições que o dicionário esclarece são em relação ao uso do hífen, em prefixos não especificados no Acordo
Luisa Alcantara e Silva e Fábio Takahashi escrevem para a “Folha de SP”:
“Re-editar” ou “reeditar”? “Coabitar” ou “co-habitar”? As principais dúvidas que o texto do Acordo Ortográfico, em vigor desde o dia 1º, havia deixado foram esclarecidas pela publicação da segunda edição do dicionário da ABL (Academia Brasileira de Letras), que começou a ser distribuído ontem nas livrarias.
O “Dicionário Escolar da Língua Portuguesa”, editado pela Companhia Editora Nacional, tem 1.311 páginas e cerca de 33 mil verbetes.
“O que está no dicionário vai ser adotado pelo Volp [“Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”], diz Evanildo Bechara, membro da ABL e da comissão de língua portuguesa do Ministério da Educação que trata do Acordo.
Volp é o documento que registra a grafia oficial das palavras. A nova versão, com cerca de 370 mil palavras da língua portuguesa, será publicada até o início de março.
Hífen
As principais dúvidas que o dicionário esclarece são em relação ao uso do hífen. De acordo com Bechara, o Acordo não tratava dos prefixos “re”, “pre” e “pro” por “esquecimento”.
Palavras com esses prefixos, segundo o novo dicionário, devem ser grafadas sem hífen, como “reeditar” e “preencher” -e não “re-editar” e “pre-encher”, como interpretaram alguns estudiosos no Acordo.
Embora o Acordo tenha sido assinado por todos os países lusófonos -menos Timor Leste, que deve assiná-lo brevemente-, a ABL afirma que as palavras que geraram dúvidas não foram discutidas com as outras nações. Mas estão valendo no Brasil assim mesmo.
“O Acordo diz que duas vogais têm que estar separadas por hífen, mas se esqueceu do [prefixo] “re”. Teria que estar separado, mas isso se choca com a tradição lexicográfica, tanto em dicionários brasileiros como em portugueses”, diz Bechara. “Se o Acordo quisesse contrariar essa tradição, teria sido explícito, o que não ocorreu. Logo, a conclusão é a de que houve um esquecimento.”
A tradição é um dos princípios do Acordo, segundo a ABL. O quarto e último princípio geral afirma que o Acordo deve: “Preservar a tradição ortográfica refletida nos formulários e vocabulários oficiais anteriores, quando das omissões do texto do Acordo”. “O texto do Acordo é curto, não ia abranger as mais de 300 mil palavras que há no Volp”, afirma Bechara.
Outra dúvida que o dicionário esclarece é a grafia da palavra “abrupto”. O dicionário diz: “”Ab-rupto” é preferível a “abrupto'” -ou seja, as duas formas são consideradas corretas, mas o ideal é usar a hifenizada. Para Bechara, “”ab-rupto” não deve causar estranhamento”. As escolas devem priorizar a forma com hífen, disse.
Outro ponto questionável do Acordo que o dicionário esclarece é o caso da acentuação em palavras como “destróier”. “O Acordo diz que paroxítonas com ditongos abertos, como “ei” e “oi”, perdem o acento. É uma regra específica, mas esqueceu que tem paroxítonas com esses ditongos que terminam em “r”, que são obrigatoriamente acentuadas. Como “destróier”. Essa regra se choca com a regra específica, mas, entre a regra específica e a geral, ficamos com a geral. Então, o acento continua nessas palavras.”
Mas ainda há um ponto que causa confusão: “co-herdeiro” ficou grafada como “coerdeiro” no dicionário, embora no Acordo a indicação fosse para escrever “co-herdeiro”. A Folha tentou falar com a ABL ontem à noite, mas ninguém foi localizado para comentar o caso.
Segunda edição
Os interessados em consultar o dicionário devem ficar bastante atentos: os verbetes considerados corretos e esclarecedores aparecem apenas na segunda edição da obra.
A primeira, com 15 mil exemplares -já vendidos-, foi publicada com verbetes errados. O problema é que não há na capa selo ou identificação que diferencie as edições -isso ocorre apenas na primeira página, onde está escrito “2ª edição”.
Quem comprou a primeira edição deve encontrar a partir de hoje os verbetes que saíram incorretos corrigidos no site da empresa (www.editoranacional.com.br). Caso não esteja no ar, o consumidor pode entrar em contato pelo telefone 0/xx/11/2799-7799 ou pelo e-mail (atendimento@editoranacional.com.br).
(Folha de SP, 14/1)
22 – Mecanismo cerebral promove adesão à opinião dominante
Pesquisa identifica raízes biológicas do mal-estar causado por desobediência a normas sociais vigentes
Alexandre Gonçalves escreve para “O Estado de SP”:
Pesquisadores holandeses desvendaram a atividade cerebral por trás da tendência de imitar as opiniões e o comportamento alheios. Imagens obtidas com ressonância magnética funcional revelaram quais regiões do cérebro atuam quando surge um conflito entre a percepção do indivíduo e a norma estabelecida pelo grupo. O estudo foi publicado hoje na revista científica Neuron.
Nos testes, os cientistas perceberam que a área conhecida como zona cingulada rostral (ZCR) era ativada quando surgia o conflito (mais informações nesta página). Ao mesmo tempo, outra região, conhecida como núcleo acumbente (NA), tornava-se inativa. Se a reação neuronal era muito intensa, surgia o esforço para reprogramar as condutas futuras.
A ZCR produz uma resposta equivalente a um sinal de alerta sempre que os resultados de uma determinada conduta ou ideia são diferentes dos planejados. Por exemplo, quando um comportamento causa um constrangimento inesperado. Já o NA regula as recompensas – de natureza bioquímica – que produzem uma sensação de bem-estar.
As duas estruturas são importantes para o processo de aprendizado por reforço – método para fixar o conhecimento baseado na punição dos erros e na recompensa pelos acertos. Agora, os cientistas descobriram que elas também desempenham um papel fundamental na adesão às normas sociais.
Para o principal autor do trabalho, o russo radicado na Holanda Vassily Klucharev, pesquisas na área poderão ajudar na formulação de políticas públicas. “Os resultados não justificam a crença no determinismo e no fim do livre arbítrio”, diz Francesco Langone, biólogo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Mas revelam os limites e condicionamentos da liberdade humana.”
(O Estado de SP, 15/1)