Chega ao fim a 23ª edição do Seminário de Iniciação Científica (Semic), esse ano, organizado em novo formato. Nessa segunda e última etapa da mostra, realizada nesta quinta-feira, 9, no Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), 36 trabalhos foram expostos para os examinadores de cada área do conhecimento. Após analisarem as apresentações dos bolsistas de Iniciação Científica e a qualidade e inovação de seus projetos, os avaliadores premiaram dois trabalhos de cada área.
No campo das Engenharias e Exatas, foram eleitos como melhores apresentações os projetos “Identificação Dinâmica de Fractais” – coordenado pelo professor Marcelo Miranda Barros – e “Bat Algorithm Aplicado à Localização de Robôs Móveis em Ambientes 2D” – coordenado pelo professor André Luis Marques Marcato. Conforme João Pedro Carvalho de Souza, ex-bolsista desse trabalho, a ideia era desenvolver uma aplicação remota de operação de robôs, em que o usuário pudesse atuar na máquina, à distância, num espaço já conhecido. “Mesmo o robô já dispondo de um mapa, nós tínhamos alguns desafios. O primeiro era capacitar a máquina para reconhecer sua posição no ambiente. Para isso, utilizamos um sistema bioinspirado – algoritmos baseados em fenômenos da natureza – que simulasse o método em que os morcegos buscam sua presa. Feito isso, desenvolvemos um método de sensoriamento que seria utilizado no usuário.”
Para isso, os pesquisadores envolvidos no projeto criaram um algoritmo que classifica padrões do movimento das mãos do usuário, que seriam então reproduzidos pelo robô. “Tivemos taxas de acerto de 80% até 95% de sucesso na identificação de seis movimentos distintos da mão humana, como pegar uma carga. O terceiro desafio era controlar a atuação do robô no ambiente. Para isso, desenvolvemos algoritmos de controle de tensão nas juntas da mão, que determinariam a força aplicada pela máquina no ambiente.”
Souza, que atualmente é aluno de pós-graduação em Engenharia na UFJF, foi da primeira geração de alunos a trabalhar no projeto. Seu sucessor na pesquisa – Afonso Braga, que não pode comparecer ao evento por estar em uma competição fora da cidade – deverá trabalhar para integrar esses três sistemas e desenvolver, dentro da Universidade, os sensores utilizados no robô.
Na área das ciências Biológicas e Saúde, foram premiados os trabalhos “Microbiota da Cama de Sistema de Criação de Vacas Leiteiras do Tipo ‘Compost Barn’” – coordenado pela professora Dioneia Evangelista Cesar – e “Estudo Ultraestrutural do Tráfego Vesicular de Mediadores Imunes em Eosinófilos Humanos” – coordenado pela professora Rossana Correa Netto de Melo. Segundo Vitor Hugo Neves Nascimento, estudante premiado por esse último, seu trabalho esteve focado nos eosinófilos – células do sistema imune -, que possuem em, seu interior, grandes quantidades de estruturas abundantes em proteínas.
“Ao se romperem, os eosinófilos liberam essas estruturas no organismo. Observamos, em 2008, que esses grânulos de proteína permaneciam intactos e funcionais no tecido, mesmo após a morte da célula. Meu estudo procurava observar os sistemas de vesículas (que transportam o conteúdo dos grânulos), que também permaneciam intactas após o rompimento dos eosinófilos. No futuro, pretendemos estudar o funcionamento dessas estruturas e sua utilidade no organismo.”
Já os projetos “Blocos de Montar no Ensino de Arquitetura e Urbanismo” – coordenado pelo professor Frederico Braida – e “Batuque (Em)Cantos de Lutas: Um Relato Etnográfico por Meio da Antropologia Visual” – coordenado pelo professor Carlos Francisco Reyna – foram eleitos as melhores apresentações no campo das Sociais Aplicadas, Humanas e Linguística. Braida comentou sobre os objetivos de seu projeto. “A pesquisa foi desenvolvida no Grupo de Estudos das Linguagens e Expressões da Arquitetura, Urbanismo e Design, do qual estou a frente. Nesse trabalho, buscamos desenvolver materiais didáticos para o projeto de arquitetura e urbanismo, baseados em jogos de blocos de montar. Esses, serão produzidos com o auxílio de técnicas de fabricação digital e prototipagem rápida, com recursos de impressoras 3D.”
Sobre o novo formato do seminário, Braida o avalia de forma positiva. “Participei, como professor, de todas as edições do Semic, desde 2010. A princípio, cheguei a pensar que essa reformulação não fosse dar certo. Mas achei uma mudança acertada, conectada com as novas tendências das tecnologias de informação e comunicação. Os vídeos ficaram muito interessantes e, na minha unidade (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), estimulei os professores a divulgar os vídeos produzidos. Assim, criamos uma rede compartilhada de resultados de pesquisas. No modelo antigo, apenas com pôsteres, isso não seria possível.”
O Semic
Realizado anualmente pela Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF (Propp), o Semic busca divulgar os trabalhos de pesquisa desenvolvidos na Universidade por alunos de graduação e ensino médio, com o aporte dos órgãos de fomento (CNPq e Fapemig). Nesta edição, o evento adotou um novo modelo de avaliação, dividido em duas etapas.
A primeira – que ocorreu entre os dias 16 e 29 de outubro – consistiu na produção e divulgação de vídeos, postados no YouTube, em que os alunos deveriam explicar seus projetos. O formato, proposto pela Propp em 2017, procurou fortalecer a publicização da ciência, em um cenário nacional de cortes orçamentários na Educação e na pesquisa.
Responsável por avaliar as apresentações na área de Ciências Humanas, o professor Alexandre Graeml – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – percebeu no formato do evento uma inovação interessante, que poderá ser implementada em outras instituições. “Fiquei muito impressionado com a originalidade da proposta. Originalidade em termos de implementação, porque, há algum tempo, acredito que temos que ir nessa direção; inclusive sugeri, na Tecnológica do Paraná, que acompanhassem o que está sendo feito aqui. Creio que o caminho é esse, para reduzir custos e ampliar a relevância do que é feito nas universidades.”
A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, Mônica Ribeiro de Oliveira avaliou positivamente os resultados da iniciativa. “Alcançamos o que esperávamos do evento: uma maior visibilidade das nossas pesquisas, do que nossos alunos e a Universidade fazem. Com o novo modelo, encontramos outros parceiros e interlocutores para os trabalhos apresentados, não mais uma divulgação científica dentro da própria universidade. Tudo isso com mais economicidade: o evento quase não custou para a Universidade e o retorno dos docentes e avaliadores está sendo bastante positivo. Agora, trabalharemos em conjunto com nosso Comitê Assessor e com o Fórum de Pesquisa para aperfeiçoar os pontos necessários. Mas esse, certamente, será o modelo da UFJF.”