O isolamento social, a perda da rotina pré-pandemia e o medo de ser infectado pela Covid-19, além de seus possíveis agravamentos, levaram parte da população a desenvolver sintomas relacionados a quadros de depressão e ansiedade. Com o objetivo de registrar esse fenômeno, suas causas e repercussões, bem como auxiliar no cuidado de pessoas impactadas, pesquisadores estão dedicados ao estudo sobre os efeitos da pandemia na saúde mental dos brasileiros – essas pesquisas estão entre as mais de 100 relacionadas ao combate à Covid-19 desenvolvidas dentro da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Entre participantes de pesquisa da UFJF, 92,2% apresentam sintomas de depressão

Segundo a pesquisadora Fabiane Rossi, um estudo transversal desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) observou que 40,4% dos brasileiros participantes se sentiam frequentemente tristes ou deprimidos; já 50,6% relataram estar constantemente ansiosos ou nervosos durante a pandemia.

Já o estudo realizado na UFJF, intitulado “Saúde mental na pandemia do Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): um estudo brasileiro”, apresentou dados ainda mais alarmantes. “Encontramos uma parcela significativa de sintomas de depressão entre os participantes (92,2%), além de 51% apresentarem sintomas de ansiedade e 52% sintomas de transtorno de estresse pós-traumático”, afirma a pesquisadora. Ao todo, 2.624 pessoas participaram da pesquisa, sendo 897 localizadas em Juiz de Fora. De acordo com Fabiane Rossi, os dados juiz-foranos são similares aos nacionais. 

“Grande parte destes brasileiros não se encontravam em acompanhamento psicológico ou psiquiátrico no momento da pesquisa, o que é um dado relevante pois, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Fiocruz, estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia possa apresentar transtornos psíquicos caso não receba suporte”, alerta Rossi. “Além disso, observamos também outros comportamentos e sentimentos, como medo da morte, medo de perder familiares pela Covid-19, presença de manifestações psicossomáticas e aumento no uso de álcool e cigarro.”

A pesquisadora também ressaltou as dificuldades para desenvolver pesquisas no Brasil, principalmente durante a pandemia. “É fundamental que tenhamos amparo para o desenvolvimento de estudos direcionados à saúde mental, especialmente relacionados aos impactos futuros da pandemia de Covid-19, uma vez que estima-se um aumento significativo dos transtornos mentais.”

Projeto ‘Calma nessa hora’ realizou, ao longo de 2020, mais de 4 mil atendimentos via plataforma

Outro projeto que surgiu ao longo do ano passado é o “Calma Nessa Hora”. A plataforma realizou atendimentos e prestou amparo à saúde mental para população no decorrer da pandemia. Segundo dados iniciais, ao longo de 2020 foram mais de 4 mil atendimentos via plataforma. O professor do Departamento de Psicologia da UFJF, Telmo Ronzani, um dos coordenadores e idealizadores do projeto, explica que “tivemos uma surpresa muito grande devido a abrangência do projeto, com mais de 4 mil atendimentos durante esse tempo, de pessoas de todas as regiões do Brasil, da Argentina e de outras partes do mundo”. 

Ronzani diz que “a plataforma funcionou abertamente até dezembro do ano passado, via chat, quando foi fechada para fazermos um balanço dessa primeira fase e aprimorarmos algumas coisas”. Além disso, ele conta que “por meio da  parceria com outras instituições, desenvolvemos um grande banco de informações para as pessoas lidarem com ansiedade, depressão e alguma alteração de humor, com isso servindo como um primeiro suporte”. Outro fato que contribuiu e foi um aliado na construção do projeto foi a “criação de uma rede de atenção presencial ou on-line, para pessoas que precisavam de atendimento”. Quarenta profissionais da psicologia, do Brasil e da Argentina, foram capacitados pelos supervisores do projeto para prestarem atendimento psicológico