Vivemos um período de excepcionalidade por conta da pandemia da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Com diversas informações circulando sobre o assunto, umas das dúvidas é quanto ao risco de contaminação das gestantes e, consequentemente, dos bebês.
Quais cuidados as gestantes devem adotar? Há um maior risco de contágio? Como devem proceder as puérperas ou parturientes, ou seja, as mulheres que se encontram em trabalho de parto ou tiveram bebês recentemente?
Para esclarecer essas e outras questões sobre o assunto, o Portal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) conversou com o professor e vice-diretor da Faculdade de Enfermagem (Facenf), Delmar Teixeira Gomes.
Na entrevista, o pesquisador, doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destaca os estudos recentes sobre a temática, as orientações da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e a importância do histórico vacinal para redução de agravos à saúde e situações de vulnerabilidade.
Confira na íntegra:
Portal da UFJF – Vivemos um período de excepcionalidade por conta da pandemia da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Com tantas informações circulando sobre o assunto, umas das dúvidas mais frequentes é quanto ao risco de contaminação de gestantes e, consequentemente, dos bebês. Comente, por favor.
Delmar Teixeira Gomes – As pesquisas sobre a COVID-19 têm avançado cada vez mais no Brasil e no mundo, mas já existem atualmente algumas evidências científicas que não reforçam uma maior gravidade entre as gestantes. Porém, é importante reforçar que todas as mulheres grávidas correm maior risco de morbimortalidade [Morbimortalidade é um conceito da Saúde que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional] grave por outras infecções respiratórias, como influenza e SARS-CoV, sendo as gestantes consideradas uma população de risco para a COVID-19 quando infectadas. Sendo assim, o Fluxograma de Manejo Clínico na Atenção Primária em Transmissão Comunitária, elaborado pelo Ministério da Saúde no Brasil, classifica as gestantes e puérperas como um grupo prioritário para o atendimento conforme o fluxograma.
“Já existem atualmente algumas evidências científicas que não reforçam uma maior gravidade entre as gestantes” – Delmar Gomes
Cabe aos profissionais de saúde, principalmente aos enfermeiros e médicos responsáveis pela atenção ao pré-natal, sensibilizar as gestantes sobre a importância dos cuidados que devem ser tomados para evitar o contágio pelo coronavírus, bem como, as mulheres no puerpério [período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação] sobre as medidas profiláticas para a não transmissão aos bebês recém-nascidos.
Portal da UFJF – Há orientações específica para as gestantes neste momento? E quanto à amamentação?
Delmar Teixeira Gomes – De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e com o Ministério da Saúde, no Brasil, as orientações para as gestantes evitarem o contágio são as mesmas dadas para a população em geral para a prevenção da infecção comunitária. Podemos citar: realizar lavagem frequente das mãos com água e sabão ou álcool em gel a 70%, principalmente após o contato com pessoas que apresentem síndrome gripal; evitar o contato direto com pessoas doentes ou que apresentem sinais e sintomas da doença; evitar aglomerações; utilizar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca; higienizar as mãos após tossir ou espirrar; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes bem ventilados.
“As orientações para as gestantes evitarem o contágio são as mesmas dadas para a população em geral para a prevenção da infecção comunitária” – Delmar Gomes
Com relação à amamentação, além de nos apoiarmos nas diretrizes do Ministério da Saúde, foi feita uma publicação recentemente no The American College of Obstetricians and Gynecologists (EUA). Os pesquisadores reforçam que existem raras exceções quando a amamentação ou alimentação com o leite materno não é recomendada. Atualmente, a principal preocupação não é se a COVID-19 pode ser transmitida através do leite materno, mas se uma mãe infectada pode transmitir o vírus através de gotículas respiratórias durante o período de amamentação. Uma mãe com a COVID-19 confirmada ou que é uma suspeita sintomática deve tomar todas as precauções possíveis para evitar espalhar o vírus para o bebê, incluindo lavar as mãos antes de tocar no bebê e usar uma máscara facial, se possível, durante a amamentação. De acordo com o Centers of Disease Control and Prevention (EUA), em estudos limitados sobre mulheres com COVID-19 e outra infecção por coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), o vírus não foi detectado no leite materno, no entanto, não existem ainda evidências científicas se as mães com COVID-19 podem transmitir o vírus através do leite materno.
“A principal preocupação é se uma mãe infectada pode transmitir o vírus através de gotículas respiratórias durante o período de amamentação” – Delmar Gomes
Portal da UFJF – Quais precauções deve tomar uma mãe com a doença COVID-19 confirmada ou com suspeita sintomática, para evitar transmitir o vírus para o bebê recém-nascido?
Delmar Teixeira Gomes – O Ministério da Saúde e uma publicação feita pelo Centers of Disease Control and Prevention (EUA) orientam que, para redução do risco de transmissão da COVID-19 da mãe no pós-parto para o seu recém-nascido, os profissionais de saúde devem organizar um ambiente que considere a separação temporária (quartos separados) da mãe que confirmou a COVID-19 ou caso suspeito, do seu bebê, até liberação da utilização das precauções para evitar a transmissão da COVID-19. A alta hospitalar deverá ser programada, levando em consideração o protocolo de atendimento a pacientes hospitalizados com COVID-19.
Portal da UFJF – Há outras questões que você considere importante acrescentar?
“A história vacinal é muito importante para contribuir com a redução de agravos à saúde e situações de vulnerabilidade” – Delmar Gomes
Delmar Teixeira Gomes – Eu gostaria de ressaltar sobre a história vacinal da gestante e puérpera que é muito importante para contribuir com a redução de agravos à saúde e situações de vulnerabilidade. Elas podem ficar vulneráveis para o acometimento de uma síndrome gripal, o que torna muito importante a prevenção por meio da vacinação contra gripe H1N1 pelo vírus influenza, sendo assim, evitar complicações que poderão refletir nos bebês. Cabe aos enfermeiros e médicos estarem atentos durante o atendimento ao pré-natal a avaliar a situação vacinal das mulheres e encaminhar para a vacinação.