Atualização em 24/4/2019: A última entrada de visitantes foi alterada para 16h.

Antes mesmo da sua inauguração nesta sexta-feira, 12, o Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) já havia se consolidado como um território fértil para iniciativas científicas. Desde 2010, quando a UFJF adquiriu o terreno – que abriga reservas de um dos biomas mais abundantes e significativos do mundo, o da Mata Atlântica – mais de 50 pesquisas foram desenvolvidas em seu interior, abarcando variadas áreas das ciências naturais, como ecologia vegetal, comportamento animal, taxonomia e evolução.

Desde 2010, quando a UFJF adquiriu o terreno, mais de 50 pesquisas foram desenvolvidas em seu interior, nas áreas ecologia vegetal, comportamento animal, taxonomia e evolução (Foto: Rodrigo Milanni/UFJF)

Agora, após a abertura oficial, os responsáveis pelo Jardim Botânico voltam a firmar seu compromisso em desenvolver a ciência e, por meio dela, também cumprir os principais objetivos do espaço: o de contribuir para a conservação da diversidade local e fomentar diversas formas de conhecimento. O diretor Gustavo Soldati reforçou esses valores durante a inauguração e destacou que uma das funções do espaço é “produzir o conhecimento sobre as questões ambientais nas esferas de pesquisa, ensino e extensão”.

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF, Mônica de Oliveira, reconheceu a interdependência entre as áreas citadas pelo diretor e exemplificou como a ciência já está acessível ao público junto com as atividades do Jardim Botânico. “Toda a atividade de extensão dá voz ao que se faz no ensino, sendo de graduação ou de pós-graduação. A extensão sempre tem, então, essa interface com a pesquisa. Todo o conhecimento e toda a competência dos pesquisadores da UFJF, que hoje se mostram aqui em atividades de extensão, têm um suporte de pesquisas científicas bastante consolidadas. O que vivemos no Jardim Botânico é a ciência, de uma certa forma, sendo divulgada para a comunidade.”

Potencial científico e tecnológico

Ao mesmo tempo em que promove educação ambiental, Jardim Botânico busca desenvolvimento científico e tecnológico por meio de preservação da natureza (Foto: Maria Otávia Rezende/UFJF)

Uma das principais diferenças entre um jardim botânico e um parque é que o primeiro se constitui também como um local de estudo. Ao mesmo tempo em que promove a educação ambiental junto à comunidade acadêmica e à população da região, o Jardim Botânico da UFJF também proporciona o desenvolvimento científico e tecnológico por meio da preservação da natureza.

Além de sediar pesquisas já realizadas e em andamento, o local também conta com um Centro de Pesquisa em fase de implementação. A sua infraestrutura conta com sete laboratórios de estudos interdisciplinares, com capacidade para contemplar áreas como botânica, ecologia, zoologia e bioquímica. Outro projeto presente no espaço é o Laboratório Casa Sustentável, desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, cujo objetivo é promover a conscientização do público sobre princípios de sustentabilidade, além de fornecer técnicas e estratégias construtivas de arquitetura bioclimática, conforto ambiental e eficiência energética.

Normas para estudos no local
De acordo com a direção do Jardim Botânico, em breve será divulgado um formulário on-line para cadastro de propostas de pesquisas a serem realizadas no local, assim como as orientações e as normas para a realização das atividades. Os projetos poderão ser apresentados por professor efetivo, visitante ou pesquisador associado da UFJF, como também por profissionais externos. Nesse último caso, será preciso formalizar parceria ou convênio com a instituição.

As atividades deverão ser registradas e aprovadas pelo Conselho Setorial de Pós-graduação e Pesquisa da UFJF e pela Direção do Jardim Botânico. Um parecer analítico será emitido em, no máximo, 30 dias após a submissão do pedido.

Área privilegiada para pesquisa
Com aproximadamente 85 hectares que estão em regeneração há cerca de 80 anos, o Jardim Botânico é reconhecido como um dos fragmentos urbanos de maior extensão com reservas remanescentes do ecossistema da Mata Atlântica. Trata-se de um bioma que possui em torno de 20 mil espécies vegetais, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas. Essa quantidade corresponde a aproximadamente 35% das espécies existentes em todo o território brasileiro. De acordo com o levantamento florístico mais recente realizado dentro do espaço do Jardim Botânico, que é constituído por esse bioma, já foram identificadas mais de 500 espécies vegetais. Entre elas, estão espécies em extinção, como o pau-brasil e o ipê-roxo.

Bioma possui cerca de 20 mil espécies vegetais, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas (Foto: Maria Otávia Rezende/UFJF)

 

Diretor e vice-diretor do Jardim, Gustavo Soldati e Breno Moreira, destacam que essas descobertas demonstram o potencial de conservação do local. Segundo ambos, o fragmento florestal urbano presente no espaço é propício para o desenvolvimento de pesquisas que impactam diretamente campos como, por exemplo, de abrigo para a fauna, de desenvolvimento de processos ecológicos, de estabilidade do microclima, de interceptação de chuvas e de manutenção das nascentes fluviais.

O estudo da fauna também é abundante na região – o bioma da Mata Atlântica abriga, aproximadamente, 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes. No Jardim Botânico, como consta em uma matéria especial publicada pela Revista A3 da UFJF, já foram registradas quatro espécies de serpente (como jararaca, cobra cipó, falsa coral e cobra d’água) e dez espécies de mamíferos, sendo seis delas de roedores de pequeno porte. Também foram encontrados animais como cachorro-do-mato, lobo-guará, furão-grande, lontra, quati, gato-mourisco, bugio, mico-estrela, sauá, porquinho-da-Índia, capivara, paca e cutia.

Confira mais fotos da inauguração

A variedade dos insetos, por sua vez, é considerada surpreendente em comparação com outros parques de Minas Gerais, com a diferença de que o Jardim Botânico é um fragmento relativamente pequeno e situado em área urbana, ou seja, mais suscetível à ação antrópica. Dentro dele, estão abrigadas, pelo menos, 35 espécies de vespas sociais e 60 morfotipos de borboletas e mariposas. A formação e o mapeamento de ninhos de abelhas no Jardim Botânico também já foram temas de estudo.

Soldati e Moreira ainda destacam que, além da riqueza de espécies na região, também é possível o acesso e, consequentemente, o estudo dos saberes e sistemas de conhecimento sobre armazenamento e reconstrução fornecidos pelas populações indígena, quilombola e local.

Corredor ecológico de biodiversidade
O chefe do Departamento de Botânica da UFJF, Fabrício Alvim, foi um dos pesquisadores presentes na inauguração oficial do Jardim Botânico. “Você não tem nenhuma ação concreta de gestão ou educação se não houver um levantamento científico para subsidiar isso. Hoje, só podemos falar sobre a importância das espécies ameaçadas, das nativas e da biodiversidade que existem neste espaço porque, nos últimos nove anos, houve muita pesquisa de base, de fauna e de flora, para chegar até aqui.”

Segundo pesquisas, Jardim Botânico conserva um fragmento florestal que é um corredor ecológico de biodiversidade, localizado entre a Serra do Mar e a da Mantiqueira (Foto: Maria Otávia Rezende/UFJF)

O professor também destaca a formação de recursos humanos promovida no Jardim. “Posso citar o maior exemplo disso: hoje, o vice-diretor do Jardim Botânico é o Breno Moreira, que fez sua dissertação sobre esse próprio espaço, sob minha orientação. Este ano vamos medir novamente a área que ele estudou. É uma análise contínua e necessária para sabermos como está acontecendo o ritmo natural de restauração, se a regeneração e a sucessão ecológica estão acontecendo dentro dos padrões esperados. Com esses resultados, nós temos a ideia da ciclagem do carbono e podemos definir se existe algum problema a ser diagnosticado ou alguma intervenção necessária.”

Esses estudos são possíveis porque o Jardim Botânico conserva um fragmento florestal que é um corredor ecológico de biodiversidade, localizado entre a Serra do Mar e a da Mantiqueira. Segundo a  pesquisadora e professora aposentada do Departamento de Botânica do curso de Ciências Biológicas da UFJF, Fátima Salimena, os projetos desenvolvidos são essenciais para a preservação da Mata Atlântica, uma vez que muitas espécies são “trazidas para o âmbito do Jardim para serem cultivadas em populações, para que haja uma variabilidade genética e não apenas um indivíduo isolado. Este é um trabalho primordial para a conservação da floresta na região da Zona da Mata”.

Os resultados de alguns estudos identificaram uma particularidade da mata, que possui muitas espécies de epífitas e ervas características de florestas úmidas do Estado do Rio de Janeiro. Lá a umidade oriunda do oceano é mais densa do que em Minas Gerais. Assim, a presença destas espécies pode indicar uma ligação florística entre os dois estados e Juiz de Fora como um corredor ecológico entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira.

Expandir os conhecimentos gerados no âmbito do Jardim para o público é um aspecto fundamental para gerar nas pessoas o interesse pela natureza, de acordo com Fátima. “Os visitantes terão a oportunidade de se conectar com um ambiente natural que, além de belo, faz muito bem. É essencial ter esse espaço para formar uma visão para além da destruição e exploração, conscientizando que precisamos conciliar todo o progresso com a conservação. Acredito que é impossível uma pessoa entrar aqui e sair do mesmo jeito.”

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Serviço

Horário de funcionamento
De terça a sexta e domingo, das 8h às 17h, com entrada de visitantes até 16h.
Serão permitidos, por vez, até 100 visitantes. Não há limite diário.

Endereço
Acesso à entrada pela Rua Coronel Almeida Novaes 246, no Bairro Santa Terezinha.

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