A segunda mesa-redonda do evento “Todo dia é dia de luta”, organizado pela Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher – 8 de março, abordou a presença das mulheres na academia.

Participaram da atividade, como debatedoras, a vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva; a professora do Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, Cláudia Regina Lahni, e a coordenadora de Movimentos Sociais do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e aluna da Faculdade de Engenharia da UFJF, Leda Mendonça. A mediação foi realizada pela mestranda em Comunicação da UFJF, Camille Roberta Balestieri.

Leda Mendonça (em destaque na imagem, com o microfone): “A exoneração recente de um professor da Odontologia foi um passo muito importante contra o machismo na UFJF” (Foto: Twin Alvarenga)

Leda Mendonça (com o microfone): “A exoneração recente de um professor da Odontologia foi um passo muito importante contra o machismo na UFJF” (Foto: Twin Alvarenga)

Leda destacou a relevância das redes sociais como espaço para divulgação dos discursos femininos e apontou algumas das dificuldades vivenciadas enquanto mulher e aluna de um curso das Ciências Exatas. “Foram os meus textos na internet que garantiram visibilidade à minha fala. A presença das mulheres nos cursos de Exatas é quase sempre questionada. A mulher não é apenas questionada no seu intelecto, mas na sua capacidade. A gente tem vários professores que se incomodam com a presença feminina nas engenharias. A minha experiência dentro da academia, como mulher, bissexual e feminista não é fácil. Ouvi, por exemplo, de um professor que ele só me aprovou num processo seletivo porque tinha interesse em mim. Hoje o professor não está mais aqui. Foi na Arquitetura, curso que imaginava fosse mais livre do machismo do que a engenharia. A exoneração recente de um professor da Odontologia foi um passo muito importante contra o machismo na UFJF. Em pouco tempo de gestão no DCE, recebemos muitas denúncias de assédio. O movimento estudantil da Universidade também teve poucas figuras femininas até hoje. Nós mulheres precisamos reafirmar nosso papel dentro da academia, precisamos estar aqui. A nossa presença é importante!”

Camille, por sua vez, ressaltou o número reduzido de estudantes negras nos cursos de pós-graduação da instituição: “Quando você é uma pessoa negra e ingressa em uma instituição, a primeira coisa que você faz é olhar para o lado e ver se encontra iguais. Na minha sala de mestrado, só tinha uma pessoa negra.”

“A mulher não é apenas questionada no seu intelecto, mas na sua capacidade.”

Feminismo almeja sociedade igualitária para mulheres e homens

A professora da Facom, Cláudia Lahni, apresentou um resumo do movimento e da produção acadêmica feminista, especialmente dos estudos desenvolvidos por pesquisadoras feministas lésbicas, e destacou as dificuldades do contexto político nacional: “Temos em curso um golpe que é, acima de tudo, machista, misógino, lesbofóbico. Não podemos nos acostumar a isso, temos que lutar contra isso. Agradeço às mulheres que antes de mim lutaram, estudaram e se manifestaram para que eu tivesse diretos. O feminismo quer uma sociedade igualitária para mulheres e homens. O feminismo não é, como se pensa, o contrário do machismo, que oprime as mulheres. Nós, feministas, queremos uma sociedade igualitária.”

“A Universidade é o espaço para a pluralidade. Se aqui nós não tivermos espaço para divergir, aqui não é Universidade. Aqui é o espaço onde cabe o periférico, o marginal”, afirmou a vice-reitora, Girlene Silva Foto: Twin Alvarenga)

“A Universidade é o espaço para a pluralidade. Se aqui nós não tivermos espaço para divergir, aqui não é Universidade. Aqui é o espaço onde cabe o periférico, o marginal”, afirmou a vice-reitora, Girlene Silva (Foto: Twin Alvarenga)

Pensar a sociedade e a academia de maneira democrática

A vice-reitora Girlene Alves da Silva enfatizou a necessidade de a Universidade pensar a sociedade de maneira mais democrática. “A universidade é uma construção coletiva. Que papel nós mulheres temos desempenhado dentro da universidade? Não podemos nos esquecer da luta travada pelas mulheres que nos antecederam. Podemos até fazer críticas, mas jamais esquecer o que elas fizeram. Como pensar as mulheres hoje na UFJF? Nós temos ocupado cargos estratégicos na instituição. Como nós estamos agindo nesses cargos é que precisamos repensar. Nós somos mais de dez mil estudantes e duas mil trabalhadoras aqui na Universidade. Aonde nós estamos? Estamos formando grandes pesquisadores para transformar a sociedade? O que fazemos com o conhecimento produzido? Não me refiro à tecnologia de ponta, mas se estamos contribuindo para a formação de cidadãos. A Universidade é o espaço para a pluralidade. Se aqui nós não tivermos espaço para divergir, aqui não é Universidade. Aqui é o espaço onde cabe o periférico, o marginal.”

“Todo dia é dia de luta”

A programação em comemoração ao Dia da Mulher termina amanhã, dia 9. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade. O evento é uma organização da Diaaf com apoio da Pró-reitoria de Extensão; Diretoria de Imagem Institucional; Núcleo de Extensão e Pesquisa em Ciências Criminais (NEPCrim); e os coletivos de mulheres Aliança pela Infância; Feminista Classista Ana Montenegro; Coletivo Candaces – Organização de Mulheres Negras e Conhecimento; Duas Cabeças; Flores Raras – Educação, Comunicação e Feminismos; Maria Maria; PretAção; e Visitrans.

Confira as próximas mesas que serão realizadas ainda nesta quarta e na quinta-feira. Acesse aqui a programação completa do evento “Todo dia é dia de luta”.

Se você foi vítima de assédio ou preconceito na UFJF, denuncie.

Procure a Ouvidoria Especializada em Ações Afirmativas, na sala da Diaaf, no prédio da Reitoria, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h, ou pelo telefone (32) 2102-6919.